07/02/2017

QUANDO SE FALA EM CULTURA

Cultura parece uma palavra pesada. Pensa-se em formação acadêmica, algo até um tanto inacessível. A confusão pode aumentar quando a pessoa é considerada culta. Não é comum se falar em cultura existencial, ou seja, atribuída a quem a adquiriu como experiência de vida. Mais do que aquele preso à palavra escrita que, como se diz, conhece o mundo mais através das escolas e dos livros. Quando se fala em “virada cultural”, o termo entretenimento surge a propósito, o sentido é de uma curtição mais leve que atinge as massas. Longe a ideia de maior reflexão, crítica social ou mesmo crítica cultural. Vladimir Safatle em seu artigo na Folha, última sexta (3/1/2017), observa que existe a tendência de cultura “ser pensada apenas a partir das funções que músicas, livros, peças de teatro e filmes desempenhariam na repetição dos padrões vigentes da vida social”. Imagine-se comunidade como não suscetível de mudanças em atitudes e comportamentos. Safatle cita Schiller. Segundo este pensador, a compreensão de que nada muda sem uma “revolução na sensibilidade”. Fora disto a cultura pode ser vista  como funcional, unida à profissão, coisa técnica ligada à eficiência dos meios e à eficácia dos objetivos. Produzir uma imagem que ainda não existe, atividade que difere do “constituído” das instituições, caberia à arte? Como fica a relação cultura-arte? Se cultura é, lato sensu, tudo o que se faz, nem tudo que se faz é arte. Arte tem mais a ver com significação, simbolismo, certo ineditismo nas composições de imagens gráficas e sons. Cópia ou deformação da realidade, estilo impressionista, ou formas abstratas, tudo isso pode se integrar no estatuto “arte”. O etcétera vai longe, em associações até não previstas de forma documental. A discussão sobre o que é arte sempre foi um quesito  provocativo. O termo “criação”, o mais apropriado em se tratando de obra considerada artística. Fugir a padrões sociais do correto e do aceito como na arte menos realista ou engajada, também faria parte da contracultura dos anos 60 e 70, a que está mais próxima de nós. Desde que há cultura, existe contracultura. Temos a socrática da Grécia antiga e nos movimentos marginais que muito marcaram o ocidente, até as vanguardas do século 21.  


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