04/02/2017

DIÁLOGO COM O MENTOR

(Depois do agnóstico, conversa com o espiritualista)

“Tive um professor de psicologia filosófica (existe ainda esta disciplina?... se existe nos currículos, não é algo normal) – o monsenhor Santa’Maria... Na universidade católica de São Paulo havia essa cadeira.” Passado algum tempo, o inesperado visitante já hospitalizado, doía a minha consciência. Incrível o acontecido. Como provoquei aquilo? O que disse o psiquiatra espiritualista, quando recorri a ele no desfecho da entrevista, as questões que propus ao agnóstico, de forma inopinável, ensejavam um complemento. Aprofundar um pouco foi o que levou ao presente diálogo... “Você falou no seu professor...” “Pois é. Ele disse que negar a metafísica era supor que existe o que vai além dela... Metafísica, espiritualidade...” “Ótimo. Vamos por aí”, disse animado o mentor. “Antes eu gostaria de lembrar que os meus ‘arquivos’... cerca de 30 cadernos, com centenas de páginas, complementam o meu inconsciente pessoal. Um depositário ao longo de pelo menos uma década, com ideias minhas e de outros pensadores, sujeitas a aflorar para o consciente, não deixando de nos socorrer com vivências de idas e vindas – eis o que me ocorre agora.” Pausa. Ele,  ao que me parece, deseja não ser interrompido. “Em parte, o que você falou, explica certas iniciativas tomadas. Mas vamos à questão sobre a morte. Novos meios, para não dizer planos espirituais, exigem adaptações. Temos pesos próprios que nos arremessam ao passado ou nos projetam para o futuro. Vale, através das vivências, da reflexão e do estudo a gente se estabilizar no espaço/tempo consoante leis que regem o equilíbrio do universo. Guardando natural proporcionalidade, equilíbrio para nós é equilibração (equilíbrio que nunca se conclui), e leis são as mesmas para o infinitamente pequeno quanto para o infinitamente grande.” Num pequeno intervalo em que preparei um café tomado sem adoçantes o mentor prosseguiu. “Podemos falar em princípio inteligente em nossa trajetória evolutiva. Há movimentação  de forma ascensional, dos reinos inferiores para os superiores. Após passar pela humanidade, transcende, se desfazendo de todos os limites. O quê isso significa? Enquanto houver resquício de matéria no espírito, restará algo de ilusório a se despojar. Tantas passagens se tornam necessárias no processo evolutivo. Muitas dimensões nos aguardam. A metafísica da evolução é algo maravilhoso. Uma espécie de conquista da quintessência.” Comentei, sem pretender qualquer fechamento doutrinário. “Tais ideias merecem reflexão e amplo diálogo.“     

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DIÁLOGO COM O MENTOR (cont.)

“Há permutas de energia de quem doa e quem recebe, como acontece entre a terra e a semente”, disse o mentor. A conversa, para tornar conhecido o desconhecido teve citações, omitidas por enquanto. Sei que a tendência é a de dar nomes, porém o “como” é o que mais importa. Claro que, em dado momento, o adequado é sugerir fontes de pesquisa para o mergulho em águas mais profundas. “A chamada morte significa renovação e jamais destruição.” Pausa. “A dor é estímulo para o despertar.” O mentor acrescenta: “O único sentimento real do universo é o amor; todas as demais virtudes emanam dele; ódio, rancor, mágoa, orgulho, egoísmo, ambição, etc., são excrescências a serem alijadas do espírito”. “Mas sobre o amor, é bom que se diga: a chance de obter afeto nem sempre encontra receptividade; não se deve cronometrar para um retorno positivo; não há energia maior que a do amor; desafio para quem doa e para quem recebe; ajuda, se o doador encontra a linguagem no tamanho e na forma e ocasião mais adequados.” “E sobre a variedade de religiões?” “Elas constituem alimento apropriado à fome de cada um. Em determinado momento evolutivo todas foram e continuam sendo necessárias.” “Elas só pecam quando disseminam preconceitos e fanatismos. Problema sério é fugir ao ‘amai-vos uns aos outros como eu vos  amei’, palavras de Jesus.” “No sistema social da crosta terrestre, quando as oito maiores fortunas do mundo equivalem aos rendimentos de, simplesmente, metade da população mais pobre do planeta, temos maneira gritante da falta de amor. Um dado recente... Exemplos, o que não falta. Que as religiões propaguem doutrinas de lucidez, fé raciocinada. No caso delas, que não estimulem o mercantilismo. O episódio bíblico do bezerro de ouro, ótimo alerta. Religiões são postulados. É aí o ponto focal. Que não esqueçam do sentimento ‘nós’, sem qualquer distinção. Reciprocidade, cooperação, solidariedade, caridade, amor – eternas premissas – verdadeiro paradigma. Todo conhecimento sem amor não faz sentido.”


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