(Depois do agnóstico, conversa com
o espiritualista)
“Tive um professor de psicologia
filosófica (existe ainda esta disciplina?... se existe nos currículos, não é
algo normal) – o monsenhor Santa’Maria... Na universidade católica de São Paulo
havia essa cadeira.” Passado algum tempo, o inesperado visitante já
hospitalizado, doía a minha consciência. Incrível o acontecido. Como provoquei
aquilo? O que disse o psiquiatra espiritualista, quando recorri a ele no desfecho
da entrevista, as questões que propus ao agnóstico, de forma inopinável,
ensejavam um complemento. Aprofundar um pouco foi o que levou ao presente diálogo...
“Você falou no seu professor...” “Pois é. Ele disse que negar a metafísica era
supor que existe o que vai além dela... Metafísica, espiritualidade...” “Ótimo.
Vamos por aí”, disse animado o mentor. “Antes eu gostaria de lembrar que os
meus ‘arquivos’... cerca de 30 cadernos, com centenas de páginas, complementam
o meu inconsciente pessoal. Um depositário ao longo de pelo menos uma década, com
ideias minhas e de outros pensadores, sujeitas a aflorar para o consciente, não
deixando de nos socorrer com vivências de idas e vindas – eis o que me ocorre
agora.” Pausa. Ele, ao que me parece,
deseja não ser interrompido. “Em parte, o que você falou, explica certas
iniciativas tomadas. Mas vamos à questão sobre a morte. Novos meios, para não
dizer planos espirituais, exigem adaptações. Temos pesos próprios que nos
arremessam ao passado ou nos projetam para o futuro. Vale, através das
vivências, da reflexão e do estudo a gente se estabilizar no espaço/tempo consoante
leis que regem o equilíbrio do universo. Guardando natural proporcionalidade, equilíbrio
para nós é equilibração (equilíbrio que nunca se conclui), e leis são as mesmas
para o infinitamente pequeno quanto para o infinitamente grande.” Num pequeno
intervalo em que preparei um café tomado sem adoçantes o mentor prosseguiu.
“Podemos falar em princípio inteligente
em nossa trajetória evolutiva. Há movimentação de forma ascensional, dos reinos inferiores
para os superiores. Após passar pela humanidade, transcende, se desfazendo de
todos os limites. O quê isso significa? Enquanto houver resquício de matéria no
espírito, restará algo de ilusório a se despojar. Tantas passagens se tornam
necessárias no processo evolutivo. Muitas dimensões nos aguardam. A metafísica
da evolução é algo maravilhoso. Uma espécie de conquista da quintessência.”
Comentei, sem pretender qualquer fechamento doutrinário. “Tais ideias merecem
reflexão e amplo diálogo.“
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DIÁLOGO COM O MENTOR (cont.)
“Há permutas de energia de quem doa
e quem recebe, como acontece entre a terra e a semente”, disse o mentor. A
conversa, para tornar conhecido o desconhecido teve citações, omitidas por
enquanto. Sei que a tendência é a de dar nomes, porém o “como” é o que mais
importa. Claro que, em dado momento, o adequado é sugerir fontes de pesquisa
para o mergulho em águas mais profundas. “A chamada morte significa renovação e
jamais destruição.” Pausa. “A dor é estímulo para o despertar.” O mentor
acrescenta: “O único sentimento real do universo é o amor; todas as demais
virtudes emanam dele; ódio, rancor, mágoa, orgulho, egoísmo, ambição, etc., são
excrescências a serem alijadas do espírito”. “Mas sobre o amor, é bom que se
diga: a chance de obter afeto nem sempre encontra receptividade; não se deve cronometrar
para um retorno positivo; não há energia maior que a do amor; desafio para quem
doa e para quem recebe; ajuda, se o doador encontra a linguagem no tamanho e na
forma e ocasião mais adequados.” “E sobre a variedade de religiões?” “Elas
constituem alimento apropriado à fome
de cada um. Em determinado momento evolutivo todas foram e continuam sendo
necessárias.” “Elas só pecam quando disseminam preconceitos e fanatismos.
Problema sério é fugir ao ‘amai-vos uns aos outros como eu vos amei’, palavras de Jesus.” “No sistema social
da crosta terrestre, quando as oito
maiores fortunas do mundo equivalem aos rendimentos de, simplesmente, metade da
população mais pobre do planeta, temos maneira gritante da falta de amor. Um
dado recente... Exemplos, o que não falta. Que as religiões propaguem doutrinas
de lucidez, fé raciocinada. No caso delas, que não estimulem o mercantilismo. O
episódio bíblico do bezerro de ouro, ótimo alerta. Religiões são postulados. É
aí o ponto focal. Que não esqueçam do sentimento ‘nós’, sem qualquer distinção.
Reciprocidade, cooperação, solidariedade, caridade, amor – eternas premissas – verdadeiro
paradigma. Todo conhecimento sem amor não faz sentido.”
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