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03/01/2016

VOLTAR-SE PARA O OCULTO

Na democracia em que vivemos, os pratos da balança, demonstram que a estabilidade está na mobilidade. Racionalistas e irracionalistas, crentes e ateus, liberais e conservadores, socialistas e capitalistas, mesmo que a gente não concorde com certa visão de mundo existe o direito de expressá-la. Sistema representativo em que se garante a exposição de pensamentos opostos, cultura nascida da liberdade e que engendra ainda mais liberdade. Na democracia é que se pode denunciar a corrupção. Quem prega a ditadura acredita que assim se instaura o reinado do absoluto. Uma democracia, ao contrário,  se caracteriza por permitir a publicação dos próprios defeitos.

A literatura é um dos instrumentos que consegue ver aspectos positivos até na balbúrdia. Sadismo, terrorismo, sequestros, no mundo de hoje pela entropia de valores. O humano mais digno descartado. Jovens indóceis, rebeldes aparentemente sem causa, desiludidos ou revolucionários. De outra parte, os que tomam consciência nestes tempos técnicos e tecnólatras. Os que não se submetem a nenhum credo ideológico ou sectário.

Corrupção na política é crime... O que se está provando hoje com as prisões. Compra de votos, chantagem e receber propinas milionárias tendem a substituir o diálogo e a tolerância.
Duas barbáries nos assolam: a tecnológica e a ideológica totalitária. A desumanização da ciência e da técnica levam à catástrofe espiritual.

Neste início de ano, tenho presente ameaças bem concretas para nós, filhos e netos. Como se não bastasse a grande crise política e econômica.
Observamos crianças, desde as muito pequenas, diante das telas e telinhas, da TV e dos celulares, dos tablets e smartphones. Cotidiano virtual a substituir o olho no olho, e a interação pessoal corpo a corpo, diretamente com objetos e com a natureza. Muito tempo sentadas, cabeça inclinada para celulares e voltadas para computadores, sob comando manual  precoce. Elas vão aprendendo esse manuseio por contágio e imitação.
Crianças, mais indivíduos do que pessoas. O indivíduo, mais próximo da biologia e da psicologia; a pessoa, mais perto das escalas de valores do espírito.    

Problemas extensivos aos adultos. E para especificar cito uma crônica de Ruy Castro (Folha, 2/1/2016): (O smartphone) “substituiu a caneta, o bloco, a agenda, o telefone, a banca de jornais, a máquina fotográfica, o álbum de fotos, a câmera de cinema, o DVD, o correio, a secretária eletrônica, o relógio de pulso, o despertador, o gravador, o rádio, a TV, o CD, a bússola, os mapas, a vida”.

Expostos à realidade virtual, espécie de religião da robótica, criada a partir da cultura da engenharia computacional, momento em que a internet poderá ser incorporada a uma superinteligência artificial. Computadores se humanizando e seres humanos tornando-se computadores.

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