Na democracia em que vivemos, os
pratos da balança, demonstram que a estabilidade está na mobilidade.
Racionalistas e irracionalistas, crentes e ateus, liberais e conservadores, socialistas
e capitalistas, mesmo que a gente não concorde com certa visão de mundo existe
o direito de expressá-la. Sistema representativo em que se garante a exposição
de pensamentos opostos, cultura nascida da liberdade e que engendra ainda mais
liberdade. Na democracia é que se pode denunciar a corrupção. Quem prega a
ditadura acredita que assim se instaura o reinado do absoluto. Uma democracia,
ao contrário, se caracteriza por
permitir a publicação dos próprios defeitos.
A literatura é um dos instrumentos
que consegue ver aspectos positivos até na balbúrdia. Sadismo, terrorismo,
sequestros, no mundo de hoje pela entropia de valores. O humano mais digno
descartado. Jovens indóceis, rebeldes aparentemente sem causa, desiludidos ou
revolucionários. De outra parte, os que tomam consciência nestes tempos
técnicos e tecnólatras. Os que não se submetem a nenhum credo ideológico ou
sectário.
Corrupção na política é crime... O
que se está provando hoje com as prisões. Compra de votos, chantagem e receber
propinas milionárias tendem a substituir o diálogo e a tolerância.
Duas barbáries nos assolam: a
tecnológica e a ideológica totalitária. A desumanização da ciência e da técnica
levam à catástrofe espiritual.
Neste início de ano, tenho presente
ameaças bem concretas para nós, filhos e netos. Como se não bastasse a grande
crise política e econômica.
Observamos crianças, desde as muito
pequenas, diante das telas e telinhas, da TV e dos celulares, dos tablets e
smartphones. Cotidiano virtual a substituir o olho no olho, e a interação
pessoal corpo a corpo, diretamente com objetos e com a natureza. Muito tempo
sentadas, cabeça inclinada para celulares e voltadas para computadores, sob
comando manual precoce. Elas vão aprendendo
esse manuseio por contágio e imitação.
Crianças, mais indivíduos do que
pessoas. O indivíduo, mais próximo da biologia e da psicologia; a pessoa, mais
perto das escalas de valores do espírito.
Problemas extensivos aos adultos. E
para especificar cito uma crônica de Ruy Castro (Folha, 2/1/2016): (O
smartphone) “substituiu a caneta, o bloco, a agenda, o telefone, a banca de
jornais, a máquina fotográfica, o álbum de fotos, a câmera de cinema, o DVD, o
correio, a secretária eletrônica, o relógio de pulso, o despertador, o
gravador, o rádio, a TV, o CD, a bússola, os mapas, a vida”.
Expostos à realidade virtual, espécie
de religião da robótica, criada a partir da cultura da engenharia
computacional, momento em que a internet poderá ser incorporada a uma
superinteligência artificial. Computadores se humanizando e seres humanos tornando-se
computadores.