A questão parece ser de grande
importância. Ao pensar e querer, até que
ponto o ato se refere ao que existe efetivamente? Muitas vezes, prevalecem os
nossos desejos, intuições, experiências anteriores, crenças e descrenças. O que
ocorre na mente e fora dela, no mundo físico, pode não se ligar numa relação
causal. A possível ou provável não correspondência com o que acontece fora de
nós chega a nos confundir. O prescrito objetivo nem sempre ganha da criatividade.
Pois não acontece de se errar acertando ou acertar errando?
Somos tendentes a repetir
comportamentos, em vez de experimentar mudanças, pelo habitual que deu certo,
condicionamentos culturais, ou por superstição, compulsão ou motivos ignorados.
Não confundir a capacidade de
observar, improvisar, com o desconhecimento técnico e científico. Outra coisa é
a ignorância. Ocorre ainda a responsabilidade que se recusa, e mesmo a
pilantragem. Intuição, como papel decisivo, para artistas, cientistas e pessoas
comuns, se inclui nesse espectro. Fora da razão, muitas vezes, a pessoa não
sabe que sabe. O muito elogiado vangloria-se com o acúmulo de acertos. “Sabe
com quem está falando?”, frase que denota egolatria. A soberba é fraqueza de
todos nós. Em uns mais, em outros menos. A consequência é não entender a força
dos que parecem fracos... Um vexame.
Não me empolga a chamada “clareza
cortante”, ou as “ideias claras e distintas” de Descartes. Em geral ficam
suprimidos a complexidade, as incertezas, a dinâmica dos antagonismos, a
interação dos opostos. Tende a aparecer o medo ordeiro de decifrar o que não se
compreende. Pode ocorrer a obliteração da história dos outros. “Clareza
cortante”, que não passa de fachada para camuflar objetivos de vantagens
pessoais. Abaixo da superfície da denúncia comum o espírito de negação.
E a própria atitude sufocante e
doutrinária? Pretender de forma abrupta a reforma das pessoas e do mundo? Será
que é quando esquecemos do que temos de mudar em nós? Face à alma e ao
espírito, sempre somos mais uma coisa do que outra? É através da alma que se
atinge o mundo interior. O espírito é a largueza do corpo-alma-mente, a psique,
igual a universo.