Vou
aprendendo que as coisas da vida não merecem uma eterna contemplação hipnótica
como objetos de beleza e felicidade. Trata-se de um fluxo constante e
desmesurado como um filme de conteúdos tristes, alegres e, por vezes, trágicos.
Todos somos afetados por lances a aplacar nossa sede de conhecimento, incluindo
a purificação de nossos corpos mesmo com o risco ao cruzar meandros da alma que
nos ameaçam com seus cantos.
Lendo
“Vida de Cinema”, do cineasta Cacá Diegues, ele, cinco anos mais novo que eu,
me faz lembrar tempos vividos nos anos 50, 60, 70. Obra escrita ao longo de
sete anos, admirável a forma de revisitar época que me abrigou como um peixe
fora d’água. Mas somos o que já fomos, disso ninguém escapa. Como no caso do
memorialista, minha formação deve muito ao cinema. Agendo comparações pelos valores,
preferências que se encaixam, eu com muita superficialidade e invigilância. Tudo
faz parte na sucessão de fotogramas interligados num significado que, muitas
vezes, nos escapa.
Não me
atrai a ideia de ser representante de um sistema, porta-voz de uma política
partidária. Prefiro pensar o mundo com alguma liberdade, sem restrições e
maiores impedimentos. Não me iludo de que não se vive sem alguma
concessão. Uma antena que pode falhar,
mas que a gente não se submeta ao senso comum, ao poder constituído, aos dogmas
religiosos, às ideologias fechadas e a uma ferrenha disciplina. Sem desobedecer
não se inova.
Em nossas
vidas, cabe destacar a oposição entre pensamento e ação. A consciência das
pessoas e a mobilização mecânica do comportamento. O coração e o pensamento.
Não resta dúvida de que o abrangente é o coração. Nas palavras de Rudolf
Steiner: “O homem pensa, de fato, com sua cabeça, mas é seu coração que sente o
esplendor ou a sombra de um pensamento”.