Em nossa época de bem e mal interagindo, por águas nunca dantes navegadas
procuro, entre minhas pinturas, a que mais se aproxima do agora. Quando
dificuldades de investigação e da justiça partem para a premiação de corruptos,
com uns flagrando outros, ficamos de cabelo em pé. Trata-se de um constituído
forjado no medo. Forma de lavar as mãos. O que está por vir? Bem e mal, mais
mal do que bem. Minha tela “As mil faces de Dionísio, também Apolo” é o que
todos somos, e que pode desencadear tragédias. Mil caras de um e de outro. A expressão
dos novos tempos é “delação premiada”. Iniciativa que não ataca o mal pela raíz.
Precariedade do sistema policial e da justiça? Por que não arregaçam as mangas?
Pela parte que nos toca, mangas também temos. Vejo um regozijo imenso quando até
corruptores são fotografados (ainda que fora das grades). Quem sempre mentiu,
na “delação” não pode ludibriar. Crimes, desde a pré-história das civilizações.
Pré-história, antes dos documentos estudados por advogados manhosos. Crimes
punidos na raça, até “invocando a suma e trina Essência” (Luís de Camões). O
que ocorre hoje nas lutas personalistas e institucionais. Sinto vergonha pela
minha inocência e alienação. Homenageio Apolo na sua bela integridade, mas também
reconheço Dionísio, desregrado na arte e no gozo, colado em nossa alma
imperfeita. O problema do mal não é só reconhecê-lo, mas institucionalizá-lo.
Aqui, também, lavo as mãos.
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