DO MEU 3X4

Não me considero um artista da palavra. Sei que escrevo complicado. Agora, por exemplo, uso o termo elíptico. Ela vem de elipse, quando há omissão de palavras facilmente [nem sempre] subentendidas. Corto e abro sentidos sem fechá-los numa clareza nada comparável à dos escritores de livros infantis e para adolescentes. Não pratico o didatismo. Quero que extraiam ideias mergulhando nas entrelinhas. Aí uma região nebulosa, do oculto que se pretende revelar. Querer dizer não significa dizer. É como se o que digito no computador se assemelhasse à minha letra cursiva, sempre com maiúsculas, depois de muito treino. Nesse caso, poucos entendem (até eu chego, às vezes, a me confundir). Se estou lendo em voz alta nos “Cadernos”, diante da algaravia paro e penso, por alguns momentos, quebrando a frase para não cometer impropriedades. Sou um maníaco da confusão, cuja poética é a do erro.

A complicação cresce quando dados estatísticos mostram que apenas um, em cada quatro brasileiros letrados, é capaz de entender um texto de complexidade média.

A elipse pode resultar de atitudes estéticas ou fisiológicas. Em arte sinto certa afinidade com o descontínuo, não linear. Fisiologicamente possuo alguma disritmia. Talvez mais do que alguma. Ocorreram lances escassos de perda de memória em uma ou duas vezes no percurso de 80 anos. O mais grave aconteceu há cerca de 40 anos. Recentemente só tive pequeno lapso de esquecimento, sem graves consequências. O saldo disso é a filosofia estética cubista, em que os polos interagem. E boa dose de expressionismo, abstrato ou figurativo. No expressionismo, uma mancha ou uma linha encerram totalidades.

Nos blogs minha atitude tem a ver com ideias que estudo, elaboro e divulgo. Meu gosto por amplidão e profundidade fica meio jogado às traças. Diálogo posterior intenso é a expectativa quase sempre frustrada.

Em nível universitário cheguei a uma especialidade, consciente de que especialistas acabam sabendo tudo sobre nada. Os inteligentinhos são mestres de citações e notas de rodapé.