10/08/2014

O PEIXE MORRE...




 Lixo extraordinário, minha foto, em que cito Vic Muniz.

 Noto entre os internautas muita indiferença diante da língua. Claro que não só entre eles, pois escrever bem parece esforço fora do comum. Sei que cada palavra nos desafia, representa um compromisso, para não dizer projeto de estilo. Existe uma coisa que se chama rigor gramatical e outra que tem mais a ver com o background ou “pano de fundo” de nossa cultura. Além da própria sensibilidade que nos leva, em casos especiais, a criar palavras. Não andar produzindo neologismos a torto e a direito, mas quando a experiência literária sugere inovações. Palavras podem virar poesia, como observou Carlos Drummond de Andrade.   
Chega a ocorrer um vazio, quando retórica, metáfora ou lirismo são utilizados apenas de maneira gratuita ou exibicionista. Outro aspecto é não se prender unicamente à ideia de objetividade presente nos dicionários. Constituem importante ajuda, pela clareza e utilidade, mas acontece de carecerem de maior sabor, insistindo no papel de “arquivo morto” de significados. Não basta só folhear o “pai dos burros”, e chupar o primeiro sinônimo que aparece. Inclusive, sabe-se que não existem sinônimos perfeitos. Há o preconceito medieval de que o nome é a coisa representada. Balela. Vale alguma reflexão e busca de sentido no contexto do que foi exarado, a palavra sempre sob um fundo de palavra. A realidade costuma ser diferente da que estamos acostumados. Mudanças de espaço-tempo interferem no que é pensado e no que é dito. Empenho e invenção pedem certa prática. Nada que não se pode conquistar. Boas leituras se conseguem em qualquer tipo de publicação (livros, jornais, revistas, sites, blogs). Desenvolver o espírito de escolha, com critérios próprios, numa sincronia com o nosso jeito de pensar, sentir e agir. Só temos a ganhar, no trato carinhoso com a própria língua. Nem falo em utilidade e provas, entrevistas onde a comunicação é importante. Se já gostamos de escrever e falar bem temos uma boa razão. E não se esquecer de que o peixe morre pela boca.



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