Noto entre os internautas
muita indiferença diante da língua. Claro que não só entre eles, pois escrever
bem parece esforço fora do comum. Sei que cada palavra nos desafia, representa
um compromisso, para não dizer projeto de estilo. Existe uma coisa que se chama
rigor gramatical e outra que tem mais a ver com o background ou “pano de fundo” de nossa cultura. Além da própria sensibilidade que nos leva, em casos
especiais, a criar palavras. Não andar produzindo neologismos a torto e a
direito, mas quando a experiência literária sugere inovações. Palavras podem
virar poesia, como observou Carlos Drummond de Andrade.
Chega a ocorrer um vazio,
quando retórica, metáfora ou lirismo são utilizados apenas de maneira gratuita
ou exibicionista. Outro aspecto é não se prender unicamente à ideia de
objetividade presente nos dicionários. Constituem importante ajuda, pela
clareza e utilidade, mas acontece de carecerem de maior sabor, insistindo no
papel de “arquivo morto” de significados. Não basta só folhear o “pai dos
burros”, e chupar o primeiro sinônimo que aparece. Inclusive, sabe-se que não
existem sinônimos perfeitos. Há o preconceito medieval de que o nome é a coisa
representada. Balela. Vale alguma reflexão e busca de sentido no contexto do
que foi exarado, a palavra sempre sob um fundo de palavra. A realidade costuma
ser diferente da que estamos acostumados. Mudanças de espaço-tempo interferem
no que é pensado e no que é dito. Empenho e invenção pedem certa prática. Nada
que não se pode conquistar. Boas leituras se conseguem em qualquer tipo de
publicação (livros, jornais, revistas, sites, blogs). Desenvolver o espírito de
escolha, com critérios próprios, numa sincronia com o nosso jeito de pensar,
sentir e agir. Só temos a ganhar, no trato carinhoso com a própria língua. Nem
falo em utilidade e provas, entrevistas onde a comunicação é importante. Se já
gostamos de escrever e falar bem temos uma boa razão. E não se esquecer de que
o peixe morre pela boca.
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