30/08/2014

MASCARAR OU NUTRIR



Difícil não generalizar qualidades e defeitos, pensando no que pretendemos ser. Ser ou estar sendo. Fealdades em sentimentos e coisas não são atributos de um território humano específico. Nações que atingiram grande progresso material exigiriam passagem na rota da matadura. Desde o mais subjetivo, de ordem ética ou moral, ao bélico destruidor de vidas ... Incluo os donos de verdades rígidas, fundamentalistas, nas diversas nuances conhecidas. Os que pregam o bem e os partidários das trevas. Tudo partindo de quem é mais ou menos solidário, ou racional, ou despótico, além dos expoentes da ciência, da filosofia, das religiões. A política é o que conhecemos e nos cansamos de suportar. Permanece oculta a bela arte de governar, apregoada pelos poetas. Por mais atraente que seja a crença ideológica ela lava as mãos se a medimos nos que a propalam. Uma grande vergonha de nós mesmos por desprezar o que seria pão para o espírito dos povos. O menos tocável – a alma – é como um robô girando em falso pelos pontos dos preconceitos, da violência que agride ou despreza o outro, das sensações grotescas, e da intuição para avacalhar e cometer atos condenáveis. Nunca falar, denunciando, foi tão fácil. A mídia que o diga. Difícil suportar a palavra fácil dos especialistas, os que analisam os atos do governo e se mostram escandalizados com a corrupção, os erros e os crimes do dia a dia. Tarefa insana sondar políticos que desceram tão fundo em poço enlameado. Medra o condicionamento das más tendências. Tecnólogos falham, apressando a obsolescência da própria tecnologia. Entre o fazer como reflexo e o agir com objetivos, grande a distância. De outra parte, o foco em metas e funções gera a predominância do quantitativo. O “para que serve” põe de lado a qualidade do que é servido. A enumeração de boas e más qualificações geraria uma colcha inconsútil. O homem como trauma do homem, começando por si mesmo. E agora José?... a pergunta que não se cala.
Como ficamos diante do espelho? Mecanismos de escape e mascaramento nos assediam no cotidiano. Compensação (não encarar o próprio erro), racionalização (desculpa), identificação (imaginar-se o bacana, gênio ou herói), deslocamento (culpar o outro)... e tantas formas de driblar o ocorrido. Essa maneira de agir é mais comum do que se possa imaginar.
Supérfluo dizer, mas assumindo um pouco ares professorais diríamos: pode-se mudar de mentalidade (1); pontos de vista tradicionais devem ser revistos (2); falar em amor ao próximo é bonito, mas cooperar torna-se mais tangível (3); conscientizar o fato de que o homem ideal não existe (4); pode-se construir cooperativamente as regras do próprio relacionamento (5); investigar o excesso de racionalidade (6); buscar mínimos de transcendência (7); pressionar menos para que haja maior co-responsabilidade (8); o homem é transitivo, podendo alterar expectativas (9); possível construir a personalidade em qualquer contexto social (10); humanizar a burocracia, até numa estrutura hierarquizada (11); batalhar pela autonomia individual e a interação social, o que inclui os diferentes (12); a empresa como sistema de co-reflexão e de cooperação (13); o indivíduo não é uma caixa de respostas (14); interagir é melhor que nivelar, desde que com lógica e amor (15); participação como geradora de uma consciência mais responsável (16); o conceito de pessoa, inteligível no grupo (17); a humanidade como um organismo (18); criação de regras em grupos de reciprocidade (sentimento do nós) e reversibilidade (pensar o que o outro pensa)... penúltima (19) de um etcétera. Tudo isso e muito mais determina a maturação dos fenômenos sociais (educacionais, linguísticos, econômicos, técnicos, artísticos, religiosos, familiares)... Novo etcétera para não se fechar o que escalonamos (numeração, condicionamento burocrático). Aqui, nosso mecanismo de escape: compensação? racionalização?... O “culpado” seria o saudoso Lauro de Oliveira Lima. Um grande obrigado, mestre!

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