Tarefas caseiras e de
arrumação ou conserto, ajudam a que se sinta feliz no que está sob os pés. Para
um intelectual aposentado que escorrega para a prática cotidiana da literatura
– e ainda vira blogueiro –, o tempo é esticado a extremos. Irrompem ideias sem
o menor aviso. Vida em família, e os mil pequenos compromissos e imprevistos a
exigirem prontas intervenções (seria cansativo enunciá-las), torna o papel de
escritor verdadeiro destemor. Como dar conta sempre da vertente inspiradora?
Qualquer rotina tende a enervar, para o rotineiro e quem o observa. O legal mesmo
é caber inteiro no que se está fazendo... Algo a alimentar a egolatria do
autor. Escrever para si, o leitor importante, porém secundário no processo. De
vez em quando somos chamuscados por críticas de variado teor. Pelo menos se
trata de alguém que passou pelo fruto caído de nossas mãos e cabeça. Já maduro
e com sementes, ou num imaturo esverdeado. De qualquer modo o interno bruto ou
delicado, sábio ou estulto, mas rebento para olhos frios do descrente, ou
aquecidos para quem nos dá alguma colher de chá. Eu me acostumei com gente
circunspecta, com a atenção carinhosa de amigos, ou a pressa dos internautas
catadores de milho. Minha sina é trabalhar com os dez dedos, qual datilógrafo
de cartório. O que antes desprezava – as redes sociais... Hoje aprovo o heterogêneo
facebook. Aí se abre a colcha inconsútil das possibilidades expressivas. O
twitter, com seus 140 caracteres, me põe na via do mais essencial. Até no
ipansotera4 me obrigam a segmentar o que escrevo. Quero o que quero, e partilho
dos econômicos contatos virtuais. Um social que cumpre sua função de lembrar
que gente existe e está disposta a bocejos de apoio e amizade, além de poder
atuar como arma giratória. Já é algo, quando a tônica do mundo está no consumo rápido
de bens e preferências; cultura encarada, sobretudo, como entretenimento. Essa
pobreza da cultura é lamentável. No facebook há quem só clica em “curtir”, diz
“presente” ou paparica (daí o uso de letras somadas para expressar emoções).
Basicamente marca-se o ponto: “estamos aqui”... Humor contextualizado é para os
fortes... Isso se aprende com tantos notáveis,
incluindo os últimos intelectuais desencarnados (João Ubaldo, Rubem Alves,
Suassuna). Um deles me ensinou que “felicidades” é mais adequado do que “felicidade”
no singular. E não se dispensa uma boa piada. Os citados, do mesmo time em contá-las. Faz parte dele o grande Millôr
Fernandes.
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