31/07/2014

A MANHA




“É”: a palavra fácil de falar.
Melhor se sentir na própria pele, mas quem não mente ou tergiversa? Mentir é via de duas mãos, o mentiroso mais cedo ou mais tarde rebatido. Mente-se como defesa contra ações agressivas, ou para esconder as próprias deficiências.
Existe a mentira camuflada, às vezes com roupa de vestal, chamada manha. Você reagindo contra quem lhe quebra rituais; contra pressões autoritárias; contra o poder que condiciona para que expectativas sejam atendidas; contra padrões contrários ao prazer; forma de neutralizar ordens e  sugestões fortes e diretas face à imposição do “você deve...”; saída para obrigações indesejáveis; a fim de atenuar a imagem da chatice de se usar com frequência o negativo “não”, ou o positivo “sim”; forma de substituir o “é”, “concordo”, “você tem razão”, etc.
Ser manhoso pode exigir talento, desenvoltura, destreza (conforme ensina o dicionário). Insisto sobre o papel a reverso do autoritarismo.
Lembro o sentimento: sobre pressão, quem se sente responsável? Temos a manha dos homens públicos, rotulada de demagogia, uma das mais conhecidas. A insistência de quem aponta os defeitos e erros do outro... Quem aguenta? Há benfazejos inesperados, até por “respeito humano”... Em filmes, assistimos a atitude mafiosa dos que exigem reverência só para si. Dizer não quando é sim e sim quando é não, só para agradar, é pura falsidade, ou seja, manha.  Parece uma constante na vida social. Há povos, cuja “cultura da sinceridade” não fere a simpatia entre as pessoas. (Isso me disse um professor belga). Em nosso caso trata-se do contrário. Existe exagero quando a intenção é só agradar. Nesse caso, sentimentos mais autênticos sobram para quem? Familiares ou pessoas próximas podem sofrer as consequências do que foi retido na relação com chefes e opressores. Este texto será fruto da manha de quem não se percebe? Natural que catalogar as próprias deficiências sugere tarefa inglória. A imperfeição costuma pertencer ao analisado. Desculpa do autor:  Difícil falar de si diante do próprio espelho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário