Com o aumento
brutal de homicídios, roubos, saques e várias formas de vandalismo, vai se
fortalecendo a imagem de uma sociedade que está se dissolvendo.
No texto anterior usei
a expressão “amar o próximo”. Lembro respeitável psiquiatra que perguntava:
“Mas como se operacionaliza isso?”
Falar em amor é fácil,
mas como praticá-lo? Outro mestre, L.O.Lima, preferia o termo cooperação, menos
desgastado. Até criou seminários experimentais para a prática “ao vivo”, trabalho
de grupo que se horizontaliza. Sem dominação doutrinária, a ênfase é dada à interatividade
e liderança emergencial. Que o mais apto tenha chance de “dar o recado”. Clima
dialógico em que todos podem se expressar.
De forma redutível
busco raízes para entender o quanto contribuímos para a melhora da qualidade do
meio social. A ameaça que sentimos hoje é a de se atingir, com a dissolução, um
ponto zero. Ansiamos por outras regras sem a dependência exclusiva da repressão
policial. Interditos estão dentro de todos nós. Lembro a peça de Jules Feiffer,
“Pequenos assassinatos”, a que assisti nos anos 1960, em que sair de casa é um
perigo, e portas e janelas são protegidas com tábuas pregadas.
Não vendo (ver ou
vender) “entradas”, volto à célula-mater da família. Aí a “caverna psicanalítica”,
como chegam a chamá-la. Muitos pais adotam atitudes de verdadeiro sadismo para
com as crianças, a título de disciplina e educação. Hoje, pelo número de bisnetos,
com menos ou por volta dos 7/8 anos, observo como existe um esforço da parte de
quem, ao se desprender do útero, procura ganhar vida autônoma face aos
condicionamentos que tem de enfrentar. O problema mais próximo da fecundação do
óvulo são os traumas: parto prematuro, compressão craniana, oxigenização
artificial, cesariana, gestação antinatural... E a persistência das mães em
manter os rebentos de forma motora e alimentar dependentes. Sabe-se que a adolescência
chega a se estender, entre nós, aos vinte ou mais anos. Natural que quem gerou,
alimente e defenda a prole. E cabe ao pai ajudar o filho a “entrar em cena”,
para assumi-la. O desafio é não impedir o “foguete” de subir, como faz a abelha-mestra
protetora. A criança necessita de carinhos, porém é comum a resistência que apresenta
a excessos de aconchego, abraços e beijos. É quando uma teia substitui o
bem-estar da criança, excesso de desejos satisfeitos, por autocomplacência. Muitas
mães vivem o nível arcaico de uma infância perdida. Assim se compensam. Raros
os pais que entendem afetividade como tépido clima de segurança e progressiva
independentização. Uma bandeira pedagógica tremula, anunciando a educação, cujos
objetivos são: autonomia individual e interação social.
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