24/05/2014

REVIVER O NOMEADO




Com o aumento brutal de homicídios, roubos, saques e várias formas de vandalismo, vai se fortalecendo a imagem de uma sociedade que está se dissolvendo.
No texto anterior usei a expressão “amar o próximo”. Lembro respeitável psiquiatra que perguntava: “Mas como se operacionaliza isso?”
Falar em amor é fácil, mas como praticá-lo? Outro mestre, L.O.Lima, preferia o termo cooperação, menos desgastado. Até criou seminários experimentais para a prática “ao vivo”, trabalho de grupo que se horizontaliza. Sem dominação doutrinária, a ênfase é dada à interatividade e liderança emergencial. Que o mais apto tenha chance de “dar o recado”. Clima dialógico em que todos podem se expressar.
De forma redutível busco raízes para entender o quanto contribuímos para a melhora da qualidade do meio social. A ameaça que sentimos hoje é a de se atingir, com a dissolução, um ponto zero. Ansiamos por outras regras sem a dependência exclusiva da repressão policial. Interditos estão dentro de todos nós. Lembro a peça de Jules Feiffer, “Pequenos assassinatos”, a que assisti nos anos 1960, em que sair de casa é um perigo, e portas e janelas são protegidas com tábuas pregadas.
Não vendo (ver ou vender) “entradas”, volto à célula-mater da família. Aí a “caverna psicanalítica”, como chegam a chamá-la. Muitos pais adotam atitudes de verdadeiro sadismo para com as crianças, a título de disciplina e educação. Hoje, pelo número de bisnetos, com menos ou por volta dos 7/8 anos, observo como existe um esforço da parte de quem, ao se desprender do útero, procura ganhar vida autônoma face aos condicionamentos que tem de enfrentar. O problema mais próximo da fecundação do óvulo são os traumas: parto prematuro, compressão craniana, oxigenização artificial, cesariana, gestação antinatural... E a persistência das mães em manter os rebentos de forma motora e alimentar dependentes. Sabe-se que a adolescência chega a se estender, entre nós, aos vinte ou mais anos. Natural que quem gerou, alimente e defenda a prole. E cabe ao pai ajudar o filho a “entrar em cena”, para assumi-la. O desafio é não impedir o “foguete” de subir, como faz a abelha-mestra protetora. A criança necessita de carinhos, porém é comum a resistência que apresenta a excessos de aconchego, abraços e beijos. É quando uma teia substitui o bem-estar da criança, excesso de desejos satisfeitos, por autocomplacência. Muitas mães vivem o nível arcaico de uma infância perdida. Assim se compensam. Raros os pais que entendem afetividade como tépido clima de segurança e progressiva independentização. Uma bandeira pedagógica tremula, anunciando a educação, cujos objetivos são: autonomia individual e interação social.    

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