Alguns
professores me fazem bem recordar. Coisas boas e ruins com eles. Mario Sergio
Conti, em belo artigo da Folha de ontem (16/5) – “Nunca houve mulher como
Gilda” – me devolve ao que já escrevi sobre ela, no blog ipansotera. Com
preguiça de voltar a ler o texto anterior relembro fatos passados. Fiz
vestibular para filosofia na USP, sendo reprovado em francês por ela, num exame
oral. Senti que um erro de pronúncia a irritou. Acho que tentei driblá-la. Corri
para a PUC, onde passei em melhor situação, outro vestibular, até elogiado pelo
professor Itagiba Mariúzo na tradução, do francês, por escrito. O texto, batalha
napoleônica que virou descrição de um quarto de dormir. Eu que não fumo, até
fumei antes da prova para me acalmar. Da universidade católica me transferi,
anos depois, para terminar o curso na USP. Sofri, algumas vezes, no final dos
anos 1960, com professores sorbonnescos,
trancando a matrícula. Gente presa, outros deixando o país, clima de tensão, a
luta campal entre alunos da USP e os do Mackenzie...
Fui
aluno de Gilda, professora de estética. Lendo o texto carinhoso de Mario me vem
a imagem de uma bela mulher recostada no batente da porta, durante a aula,
embevecida, ao som da música dodecafônica de Schönberg, para mim uma revelação.
Em outro momento, a pedido dela, escrevi sobre expressionismo. Observou que poderia
ter me detido em Van Gogh, pois ali estava clara a preferência. Perto do exame
oral, como acontecia na época, esse tête-à-tête
professor-aluno, eu temia sua avaliação (lembrança do vestibular). Conversei
com Alfredo Mesquita, na rápida amizade que tive com ele, sabendo que Alfredo era
amigo de Gilda. Demonstrei minha apreensão, imaginando prováveis dificuldades.
Não sei se ele interferiu, mas tudo correu bem no exame. Titubeei ao falar sobre
Apollinaire, poeta e crítico de arte francês. Gilda me animou: “Você escreve de
forma cubista como ele”.
Fui
aprovado em estética, terminando a filosofia anos depois, quando ela mudou da
Rua Maria Antônia para a Cidade Universitária.
Ainda
sobre o artigo de Mario Sergio Conti – o que justifica o título, na lembrança
de clássico do cinema – Gilda “foi uma das raras mulheres num ambiente masculino,
o das primeiras turmas da Faculdade de Filosofia da USP, anos 1930”. Outra incrível
professora, Zenaide V. de Araújo, que muito tem a ver com minha formação, também
daquele tempo, comentou o caráter sedutor de Gilda. Ela se casou com um dos homens
mais inteligentes do Brasil, Antonio Candido, união de 60 anos.
Li, de Gilda de Mello e Souza “O Espírito das
Roupas”, Companhia das Letras, em 2001. Conti fala no livro, “A Palavra Afiada”,
pela Olho sobre Azul editado agora, também de Gilda. Só me resta agradecer ao
sensível Mario Sergio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário