De um lado
do bordão,
um filhote
de
bisão
Hoje, surge
a lembrança da performance que fiz, no início dos anos 2.000, em evento do
Núcleo de Arte Contemporânea Olho Latino. Participei da exposição com meus cajados.
O salmo 23, menção do amigo Nestor Lampros, foi muito oportuno. De outra parte
eu pesquisei, consultando o dicionário de Cirlot e o livro “Símbolos da
Transformação”, de Jung. Tudo a posteriori, o salmo e os livros. Senti valer
a pena, para a compreensão do tema “Cajados”, escrever sobre imagens e ideias
recorrentes.
A frase
de caminhoneiro “Uma vala, pula!” sugere estrada, caminhante. Mais natural é o
perambular a pé.
Aí entra
o cajado, bordão, bastão. A construção dos cajados teve um início aleatório.
Menos como apoio e mais como instrumento de defesa contra cães (e intimidação
frente a inimigos ocultos?), nas andanças por estradas de terra. Quase sem
preocupação com o “para quê”. Uma visão estética das coisas naturais e fabricadas.
Do objeto ao sentido, a intimidade do objeto. Leve ou pesado, curto ou longo,
liso ou rugoso, nu ou vestido, reto ou curvo. Ponteiro de bússola, aponta,
orienta, sonda o meio circundante. Como guia (razão) e como “libido effrenata”
dionisíaca. Pode ser sinal de carência ou excesso. Amuleto de xamã. Na
dicotomia homem-cajado, a dualidade em que a vida flui. Recuperação do
descartado, da ruína e do lixo. Combinação de elementos do espaço-tempo. O
tronco fino de um arbusto das montanhas (Atibaia) e o galho curtido pela água e
sal do mar (Peruíbe), juntos. Recorte e cola. A coisa, o objeto – ali. Desafio
ao olhar apolíneo. O objeto pode virar sujeito. Ato de furar. De um lado,
relação com fogo, de outro, com a concepção. Fecundidade. Candelabro. Adaga e tocha.
A imagem de Ulisses, como cabiro deformado. Como cruz. Galho da árvore da vida,
significando origem. Galho envolto pela serpente – mãe protegida pelo medo do
incesto. Fragmentos de esculturas em terracota do homem-totem Alderico. Homem
como cruz. Na cabeça do cajado, âncora de salvação (símbolo cristão primitivo).
O signo zodiacal de Áries. Aion, como o sinal do zodíaco. Almas, empunham
cajados. Revificação do mito dos antigos egípcios quando festejavam a
natividade do bastão do sol. Como o dia e o calor iam desaparecendo, supunham
que o astro necessitava de um bastão para apoiar-se. Salvador Dalí empregava muletas
em sua temática. Símbolos concentram energia, uma energia que, se consciente,
gera poder.
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