Quando
a gente imagina administrar bem intempéries da alma, pode estar interpretando
mal calores estomacais. Uma gastrite estaria a caminho? O corpo é abrangente
com relação à psique (esta abrange todos os pensamentos, sentimentos e
comportamento, tanto os conscientes como os inconscientes). No meu caso, certos
aborrecimentos que racionalizo vinham acompanhados da sensação de uma leve
fervura no estômago. Qual o médico que desentranha males aparentemente misteriosos?
Um trabalho ou atividade que exige muito de nós possui efeitos colaterais
negativos para o corpo, embora achemos que a mente lida de forma satisfatória
com os problemas. Estresse, por exemplo, se constante, produz enfraquecimento
no corpo... e na alma (termo antigo para psique).
CASO
MITOLÓGICO
No
Twitter tenho cerca de 3 mil postagens. Somadas aos textos dos meus blogs
(ipan4 e blogspot.com) – imagino uma árvore com frutos e folhas secas –, mais 6
mil. A metáfora é a de um pai coruja. Necessário sacudir a árvore, separando
frutos maduros e folhas verdes, do que apodreceu ou secou. Tarefa editorial
talvez pouco ajuizada, cuja dimensão me parece insana. Lembraria a limpeza das
cavalariças de Áugias. Hercúleo trabalho. Para ajudar, pensando no meu “ocaso”,
apelaria para alguém identificado com minha vida interior. Para a edição literária,
seja em livro de papel ou e-book, valeria a pena que a pessoa cultive certo
domínio gramatical e linguístico, e se dedique à categorização das partes. Eu
disposto a dar-lhe uma pobre assistência. Sei que ninguém está completo, em se
tratando do nosso idioma. Mas que carregue um pouco de obsessão perfeccionista.
FORA
DO PAPEL
O
meu e-book “Ninho de Silêncio”, em preparação, tem um monge na capa. É o “Monge
de Claraval”, foto que recebeu outras técnicas (pintura, gravura).
Inicialmente, fotografia em preto e branco, realizada no mosteiro cisterciense
de Claraval, lugarejo perto de Franca, cidade em que nasci. O traje vermelho,
acrescentado na pintura, refere-se a um sonho em que clérigo assim vestido
cruza rodovia de alta velocidade. Em livros obtenho a informação, posterior à
feitura do quadro, de que essa túnica pertencia a ordem religiosa encontrada
nas “trevas espirituais”. Monges terroristas contra a humanidade, seja terrena
ou de outra dimensão.
Costumo
pensar corporações, religiosas ou não, como entraves à autonomia de um homem mais
interativo. Na pintura, figura e fundo parecem carregar a mesma energia. Figura
expressionista em fundo que valoriza linhas e manchas (cubismo). Figura e fundo
se fundem. Arte e vida entrelaçadas. Sinto aversão por mercado e modismos, sem
negar meu lado utilitarista e conservador. Acredito fazer arte e literatura por
uma necessidade existencial.
ESTÉTICA
E VIDA
Não
costumo separar artes da cultura em geral. Livros e quadros, amigos dialógicos
inseparáveis. A minha influência sempre foi muito literária – literatura em
tudo. Atitude heracliteana, pressocrática, é ver o mundo a partir da estética
(sensibilidade). Momentos de uma vida se entrelaçam e formam uma história. Ao
dissecar os fatos, sem as emoções do instante em que ocorreram, já se tem outra
história. Sou uma extensão da literatura ou a literatura é uma extensão de mim.
QUEBRAR
E CONSERTAR
A
sensação é de uma trajetória para abalar estruturas e quebrar estereótipos.
Vida que escolhi, ou eu estar sendo o foco dela. Estruturas e estereótipos,
vejo-os expostos no meu próprio espelho. Abalo, em que também me persigno. Só
compreendemos a entropia se ela ocupa, pelo menos, um lugarzinho em nós. É como
sacudir a poeira das próprias vestes. Favor, é ter a receita de cura ou a
consciência da doença? Sem espírito de busca, a vida pode passar como aquela nuvem.
Diminuir a sujeição a categorias e valores carcomidos, atitude a preservar. No
enfrentamento do que está cristalizado podemos chegar a um roteiro em que se
cria mais e se reproduz menos. O problema do comercialismo de bens e ideias é
quando se pensa em levar vantagem em tudo, com o dinheiro no domínio da cena. O
que é útil pode escravizar.
O
LIVRO
Livro que continuo recomendando: “Memórias,
sonhos, reflexões”... Aqui uma avaliação espantosamente franca das forças e
influências que moldaram o desenvolvimento intelectual de um homem. Em vez de
um relato objetivo da própria vida, Jung preferiu analisar e descrever a vida subjetiva
ou interior, universo de vivências espirituais, sonhos e visões. Experiências
de infância, foram-lhe decisivas na formação do caráter, das atitudes e dos
interesses. Livro escrito aos 82 anos de idade e publicado no ano de sua morte
(1961).
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