24/03/2014

CORPO E ALMA



Quando a gente imagina administrar bem intempéries da alma, pode estar interpretando mal calores estomacais. Uma gastrite estaria a caminho? O corpo é abrangente com relação à psique (esta abrange todos os pensamentos, sentimentos e comportamento, tanto os conscientes como os inconscientes). No meu caso, certos aborrecimentos que racionalizo vinham acompanhados da sensação de uma leve fervura no estômago. Qual o médico que desentranha males aparentemente misteriosos? Um trabalho ou atividade que exige muito de nós possui efeitos colaterais negativos para o corpo, embora achemos que a mente lida de forma satisfatória com os problemas. Estresse, por exemplo, se constante, produz enfraquecimento no corpo... e na alma (termo antigo para psique).

CASO MITOLÓGICO

No Twitter tenho cerca de 3 mil postagens. Somadas aos textos dos meus blogs (ipan4 e blogspot.com) – imagino uma árvore com frutos e folhas secas –, mais 6 mil. A metáfora é a de um pai coruja. Necessário sacudir a árvore, separando frutos maduros e folhas verdes, do que apodreceu ou secou. Tarefa editorial talvez pouco ajuizada, cuja dimensão me parece insana. Lembraria a limpeza das cavalariças de Áugias. Hercúleo trabalho. Para ajudar, pensando no meu “ocaso”, apelaria para alguém identificado com minha vida interior. Para a edição literária, seja em livro de papel ou e-book, valeria a pena que a pessoa cultive certo domínio gramatical e linguístico, e se dedique à categorização das partes. Eu disposto a dar-lhe uma pobre assistência. Sei que ninguém está completo, em se tratando do nosso idioma. Mas que carregue um pouco de obsessão perfeccionista.    

FORA DO PAPEL

O meu e-book “Ninho de Silêncio”, em preparação, tem um monge na capa. É o “Monge de Claraval”, foto que recebeu outras técnicas (pintura, gravura). Inicialmente, fotografia em preto e branco, realizada no mosteiro cisterciense de Claraval, lugarejo perto de Franca, cidade em que nasci. O traje vermelho, acrescentado na pintura, refere-se a um sonho em que clérigo assim vestido cruza rodovia de alta velocidade. Em livros obtenho a informação, posterior à feitura do quadro, de que essa túnica pertencia a ordem religiosa encontrada nas “trevas espirituais”. Monges terroristas contra a humanidade, seja terrena ou de outra dimensão.



Costumo pensar corporações, religiosas ou não, como entraves à autonomia de um homem mais interativo. Na pintura, figura e fundo parecem carregar a mesma energia. Figura expressionista em fundo que valoriza linhas e manchas (cubismo). Figura e fundo se fundem. Arte e vida entrelaçadas. Sinto aversão por mercado e modismos, sem negar meu lado utilitarista e conservador. Acredito fazer arte e literatura por uma necessidade existencial.

ESTÉTICA E VIDA

Não costumo separar artes da cultura em geral. Livros e quadros, amigos dialógicos inseparáveis. A minha influência sempre foi muito literária – literatura em tudo. Atitude heracliteana, pressocrática, é ver o mundo a partir da estética (sensibilidade). Momentos de uma vida se entrelaçam e formam uma história. Ao dissecar os fatos, sem as emoções do instante em que ocorreram, já se tem outra história. Sou uma extensão da literatura ou a literatura é uma extensão de mim.

QUEBRAR E CONSERTAR

A sensação é de uma trajetória para abalar estruturas e quebrar estereótipos. Vida que escolhi, ou eu estar sendo o foco dela. Estruturas e estereótipos, vejo-os expostos no meu próprio espelho. Abalo, em que também me persigno. Só compreendemos a entropia se ela ocupa, pelo menos, um lugarzinho em nós. É como sacudir a poeira das próprias vestes. Favor, é ter a receita de cura ou a consciência da doença? Sem espírito de busca, a vida pode passar como aquela nuvem. Diminuir a sujeição a categorias e valores carcomidos, atitude a preservar. No enfrentamento do que está cristalizado podemos chegar a um roteiro em que se cria mais e se reproduz menos. O problema do comercialismo de bens e ideias é quando se pensa em levar vantagem em tudo, com o dinheiro no domínio da cena. O que é útil pode escravizar.

O LIVRO

Livro que continuo recomendando: “Memórias, sonhos, reflexões”... Aqui uma avaliação espantosamente franca das forças e influências que moldaram o desenvolvimento intelectual de um homem. Em vez de um relato objetivo da própria vida, Jung preferiu analisar e descrever a vida subjetiva ou interior, universo de vivências espirituais, sonhos e visões. Experiências de infância, foram-lhe decisivas na formação do caráter, das atitudes e dos interesses. Livro escrito aos 82 anos de idade e publicado no ano de sua morte (1961).

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