Uma
velha ideia aprendida: a macropolítica começa no microgrupo. Ou é uma cópia dos
pequenos relacionamentos. Vivemos por assimilação e acomodação. Tanto uma como
a outra tem a ver com o que nos foi injetado desde que nos entendemos por
gente. Instituições como família, escola, religião... Lendo a matéria
“Fortaleza”, de Matias Spektor, Folha de 19.3.2014, tive lampejos esquemáticos
de generalização (perdoem o tom enfático). Vamos lá. A vida é um jogo. Muitas
vezes nem temos consciência do que nos passa. Metaforizamos o que nos passa na
alma. Por maior que seja o ideal humanístico, buscamos a concentração de alguma
forma de poder. Isso pode ser péssimo por tornar as relações interpessoais
instáveis, injustas e empobrecidas. Falo no convívio com pessoas próximas e no coletivo
social. No caso do microgrupo invadimos o outro geralmente pelos porquês. Nas amplas
relações sociais, e nas mais íntimas, o poder deveria ser melhor distribuído. Existem
choques de interesses e os dos ritmos individuais. Podemos pensar em casais como
também em pessoas ligadas pelos anseios e atividades. Menos hierarquia ajuda a
diminuir o espírito individualista competitivo, numa “multipolaridade benigna”.
O esquema seria benigno se baseado na justiça do “não fazer aos outros o que
não se deseja para si”. Ética redistributiva com relação a bens de qualquer
espécie entre pessoas melhor o pouco dotadas, em diversas categorias, idade ou
raça. Necessário um sistema multipolar estável, em que haja maior “concerto”
entre os pares. “A concertação e a acomodação entre os atores mais relevantes é
o motor da coexistência pacífica” – como diz Matias. Há urgência, por
princípio, de formas mais naturais e compreensivas para o convívio nos pequenos
grupos. Necessário métodos de concertação visando uma existência coletiva menos
conflituosa. Novo ordenamento de desejos e expectativas. O delineamento deve
ser bem definido. Sei que fatores emocionais e atávicos pesam muito. Acredito
que há esforços nesse sentido. Que o conceito de “multipolaridade benigna” se
torne operativo de fato. Entendo que se começa pela intenção. Retrair-se,
quando o emocional começa a pôr a cabeça para fora, na busca de apoio face a
impulsos límbicos irrefreáveis. Atitudes autoritárias, em nós introjetadas, fazem
parte da micro e macropolítica. Política, como sinônimo de influência que
administra relações interpessoais nos pequenos e grandes grupos. O autoritarismo
é real; democracia ainda tem muito a ver com falácia, podendo melhorar quando
mais interativa. Interesses fundamentais precisam ser revistos. O assunto
animaria workshops de sensibilização, daqueles em que atuávamos como
facilitadores, com vistas a uma revisão de valores, atitudes e comportamentos. Cabe
evitar a tendência de cairmos num intelectualismo explicativo de conceitos e
estereótipos. Paradigmas e noções sobre o certo e o errado, a chamada clivagem,
precisam ser analisados. Caso contrário, o que já caducou, pode nos congelar no
desassossego, ponto visível do que é pior.
Paz
é algo além da ausência de guerras.
No
momento da leitura do artigo de Matias Spektor, que escreve na Folha, às quartas-feiras
(esse é de 19-3-2014), Ruy Castro reabre a minha memória para um período que
ajuda na tarefa de repactuação e concerto. Penso no que é preciso mudar. Dói a
sensação de marcha a ré com o ativismo inconsequente e sem história querendo
chamar de volta a “Marcha...” que precipitou a ditadura em nosso país. O que sobrou não é nada
memorável e está dando muito trabalho para consertar.
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