09/01/2014

QUEM CASA QUER CASA (A Daniel Choma)



Sentir liberdade onde se mora, direito inalienável. O cultivo de espaços próprios para usar as mãos e a prática do lazer. Cada um tem o direito de construir utopias. Quer coisa pior do que censura no seu hábitat? Vontade de chacoalhar a barraca. Transformar a morada em arena de conflitos... Outra coisa ruim. Sempre há atitudes e comportamentos a dissolver e a reforçar. Na vida em comum, por vezes, vem a ressaca pela reconstrução do corpo e da casa. Novas edições a vivenciar. Na reconstrução física, potencial tanto para a paz quanto para o caos. Conforto e desconforto quando espaços viram ruínas ao serem transformados. Aí, velhos hábitos a reconsiderar. Como fica nossa mente utópica? E o futuro, como visualizá-lo? Na medida em que a idade avança, o tempo passa a ser mais calculado. A imaginação não fica tão solta. Difícil encontrar clima para isso sem inevitáveis atritos. Sei que até com materiais ordinários se montam utopias. Não é fácil obter o clima necessário para devaneios. No quando da arte e da literatura isso chega a ser possível. A ilusão da pessoa laboriosa, aposentadoria seria o descanso. Ledo engano. Surge mais tempo para labutar, até sem horas para isso ou aquilo. E quem disse que pensar não é ação?

ANÕES E DEUSES

Fazer arte ou literatura dá muito trabalho. Existe a ansiedade e a angústia da elaboração. É quando os deuses ajudam menos. Redação – parte final de qualquer composição (G.W.G. Moraes) – chega a levar muito tempo para se concluir. E sempre termina num etcétera. A não ser que a pessoa atue numa espécie de linha de produção, mesmo sem maior previsão de resultados. Aí ela vira um fabricante de coisas, geralmente, descartáveis.

                                                                                                             ESCOLHOS

No afastamento dos grupos e do centro do mundo, pode ocorrer o
 leitmotiv para se trabalhar mais. Muitas vezes realizamos obras provisórias para desentupir fontes. Tipo ensaio e erro. Finaliza-se quando a torneira jorra o que consideramos mais consistente. Trata-se de autonomia para traduzir o resto do mundo.

SOLILÓQUIO

Esconde-se o desejo de ser representado... A obra é para quem? Sempre se espera alguém para usufruí-la, começando pelo próprio autor. O artista pratica uma espécie de psicanálise informal diante das fricções cotidianas. Angustia quando falta maior coragem para o desbunde e a vanguarda. Sentindo-me excluído procuro produzir com um mínimo de elegância... Aquela dança das palavras.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário