Sentir liberdade onde se mora, direito
inalienável. O cultivo de espaços próprios para usar as mãos e a prática do lazer.
Cada um tem o direito de construir utopias. Quer coisa pior do que censura no seu
hábitat? Vontade de chacoalhar a barraca. Transformar a morada em arena de
conflitos... Outra coisa ruim. Sempre há atitudes e comportamentos a dissolver
e a reforçar. Na vida em comum, por vezes, vem a ressaca pela reconstrução do
corpo e da casa. Novas edições a vivenciar. Na reconstrução física, potencial
tanto para a paz quanto para o caos. Conforto e desconforto quando espaços
viram ruínas ao serem transformados. Aí, velhos hábitos a reconsiderar. Como
fica nossa mente utópica? E o futuro, como visualizá-lo? Na medida em que a
idade avança, o tempo passa a ser mais calculado. A imaginação não fica tão
solta. Difícil encontrar clima para isso sem inevitáveis atritos. Sei que até
com materiais ordinários se montam utopias. Não é fácil obter o clima
necessário para devaneios. No quando
da arte e da literatura isso chega a ser possível. A ilusão da pessoa laboriosa,
aposentadoria seria o descanso. Ledo engano. Surge mais tempo para labutar, até
sem horas para isso ou aquilo. E quem disse que pensar não é ação?
ANÕES E DEUSES
Fazer arte ou literatura dá muito
trabalho. Existe a ansiedade e a angústia da elaboração. É quando os deuses
ajudam menos. Redação – parte final de qualquer composição (G.W.G. Moraes) –
chega a levar muito tempo para se concluir. E sempre termina num etcétera. A
não ser que a pessoa atue numa espécie de linha de produção, mesmo sem maior previsão
de resultados. Aí ela vira um fabricante de coisas, geralmente, descartáveis.
No afastamento dos grupos e do centro do
mundo, pode ocorrer o
leitmotiv para se trabalhar mais. Muitas
vezes realizamos obras provisórias para desentupir fontes. Tipo ensaio e erro.
Finaliza-se quando a torneira jorra o que consideramos mais consistente. Trata-se
de autonomia para traduzir o resto do mundo.
SOLILÓQUIO
Esconde-se o desejo de ser
representado... A obra é para quem? Sempre se espera alguém para usufruí-la,
começando pelo próprio autor. O artista pratica uma espécie de psicanálise
informal diante das fricções cotidianas. Angustia quando falta maior coragem
para o desbunde e a vanguarda. Sentindo-me excluído procuro produzir com um
mínimo de elegância... Aquela dança das palavras.
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