Há momentos, como hoje, em que tudo dá certo. Hoje, que foi ontem, últimas
semanas de um belo ano. Ano de punições... Melhor, autopunições. A natureza
humana, terra e águas, rolando para cima e para baixo. Em setembro, até a luz
que não acontecia, num dos cômodos da casa, não precisou ser trocada. Buracos
no muro, que nos tirou parte do sol, viraram ninhos de pássaros. Ouço pios e
cantos nesta manhã de dezembro. Volto a sentar no pensatório (o nome, homenagem
ao artista Tunga)... Janela aberta, brisa fresca, depois do espetacular calor aumentado
pelo asfalto da rodovia, retorno de São Paulo. No hospital de onde viemos, festa
com funcionários e pacientes, pela alta de um garoto de 13 anos, depois de
quatro meses. Ele foi tratado com mais de 90% de possibilidades de morrer.
Havia se atirado do sétimo andar do prédio onde morava. Tentativa de suicídio.
Festa com bexigas infladas, muitos sorrisos e lágrimas.
Volto a mexer com arte. Um quadro que há meses me irritava, transformou-se
em três. Cortei a tela em pedaços. Agora faz mais sentido. Encomendei madeira.
Volto às plotagens. Pinturas e desenhos, em qualquer suporte, fotografados em
alta-resolução, viram telões, como garotos que cresceram e homenageiam a vida.
No mês de setembro cheguei aos “sketchbooks”. Meus “Cadernos do Beiral”
também são futuros livros de esboços. Estou no vigésimo quinto. Neles há
palavras, palavras, palavras – como dizia Hamlet – e imagens (fotos, desenhos,
pinturas). Cadernos e imagens, um fim neles mesmos.
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