07/12/2013

EM TEMPO LÁ E AQUI



Época do mensalão. Esta palavra, metáfora para o grande mito que assola o mundo, não só o Brasil. E nunca as informações correram tão depressa. Privacidade é fantasma extinto. Pacto com o diabo? Aliás, todos temos um mito individual, matriz de nossas vidas. Eu me faço perguntas, utilizando o melhor instrumento que se aprende em filosofia: as perguntas.  Se você não pensa – claro que todo mundo tem ideias, até os loucos – como enfrentar as adversidades comuns na comédia humana? Dores e desejos não atendidos, lances de satisfação e de desgostos. Quem corrompe e quem não é corrompido? Você acredita em pragas? Para se curar imaginamos Deus, ciência, anjos bons e maus. Você pergunta: “Mas Deus existe?” “A ciência é infalível?” Sempre um “mas”. Só que nunca ninguém provou que Deus não existe. Então... Você se interessa mais nas letras do que nas leis? É mais racionalista ou intuitivo? É romântico ou realista? Pessimista ou otimista? Voltado mais para si mesmo ou para as coisas externas? Sempre um “mais” ou um “menos”... É egoísta e orgulhoso? Socializa bens e ideias? Prefere ser herói ou uma simples pessoa? Como vê a burguesia consumista? Busca honrarias ou se contenta com uma vida modesta? Sonha com o epíteto de alguém grandioso? Grandioso no quê... Grande em convicções políticas, morais e poéticas? Quer uma vaga na barca da fama? Conhece o barqueiro? Busca sempre o contentamento e atingir o ápice da felicidade humana? Não se importa, nessa trajetória, de perder a própria alma? Num viés transcendente, crê em vida após a morte e em espíritos que se manifestam entre nós? Há os voltados para o bem e os que se dedicam à prática do mal? Acredita que as coisas podem se complicar e a saída é o arrependimento? No túmulo da escrita, como o que estou fazendo agora, pode estar a saída redentora. A gente, com a própria consciência, ensaboando a escadaria da alma. Pretende atingir uma idade provecta, com todas as deficiências físicas, de memória e tônus vital rebaixado? Oitenta, noventa, cem anos... Sei que poderá idealizar uma atividade criativa até morrer. Pense no contraposto inexistente entre ciência e religião. E no papel da arte, suprindo o ramerrão da vida. Há discernimento humano e livre arbítrio, não só um destino irremovível. O maior problema talvez esteja em se sentir torturado pela dualidade entre a vida espiritual e a vida terrena.
Melhor fazer perguntas do que parar em tempo lá e aqui.

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