Época do mensalão. Esta palavra,
metáfora para o grande mito que assola o mundo, não só o Brasil. E nunca as
informações correram tão depressa. Privacidade é fantasma extinto. Pacto com o
diabo? Aliás, todos temos um mito individual, matriz de nossas vidas. Eu me
faço perguntas, utilizando o melhor instrumento que se aprende em filosofia: as
perguntas. Se você não pensa – claro que
todo mundo tem ideias, até os loucos – como enfrentar as adversidades comuns na
comédia humana? Dores e desejos não atendidos, lances de satisfação e de
desgostos. Quem corrompe e quem não é corrompido? Você acredita em pragas? Para
se curar imaginamos Deus, ciência, anjos bons e maus. Você pergunta: “Mas Deus
existe?” “A ciência é infalível?” Sempre um “mas”. Só que nunca ninguém provou
que Deus não existe. Então... Você se interessa mais nas letras do que nas
leis? É mais racionalista ou intuitivo? É romântico ou realista? Pessimista ou
otimista? Voltado mais para si mesmo ou para as coisas externas? Sempre um
“mais” ou um “menos”... É egoísta e orgulhoso? Socializa bens e ideias? Prefere
ser herói ou uma simples pessoa? Como vê a burguesia consumista? Busca
honrarias ou se contenta com uma vida modesta? Sonha com o epíteto de alguém
grandioso? Grandioso no quê... Grande em convicções políticas, morais e
poéticas? Quer uma vaga na barca da fama? Conhece o barqueiro? Busca sempre o
contentamento e atingir o ápice da felicidade humana? Não se importa, nessa
trajetória, de perder a própria alma? Num viés transcendente, crê em vida após
a morte e em espíritos que se manifestam entre nós? Há os voltados para o bem e
os que se dedicam à prática do mal? Acredita que as coisas podem se complicar e
a saída é o arrependimento? No túmulo da escrita, como o que estou fazendo
agora, pode estar a saída redentora. A gente, com a própria consciência, ensaboando
a escadaria da alma. Pretende atingir uma idade provecta, com todas as
deficiências físicas, de memória e tônus vital rebaixado? Oitenta, noventa, cem
anos... Sei que poderá idealizar uma atividade criativa até morrer. Pense no
contraposto inexistente entre ciência e religião. E no papel da arte, suprindo o
ramerrão da vida. Há discernimento humano e livre arbítrio, não só um destino
irremovível. O maior problema talvez esteja em se sentir torturado pela
dualidade entre a vida espiritual e a vida terrena.
Melhor fazer perguntas do que parar em
tempo lá e aqui.
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