Num impulso de autoembevecimento me
declaro um caderno de esboços. Já disse algo nada original: minha poética é a
do erro. A sensação é que ouso menos do que deveria. O saudoso Gimenes Salas
disse que eu vivia na corda bamba. Gostaria de trabalhar mais com imagens,
acreditar nos meus desenhos bissextos. A fotografia como base de pinturas,
linhas e manchas, figura e fundo, cada coisa integrada e um fim em si mesma.
O livro que me chegou às mãos pela
“pedagoga curativa”, a neta Camila, “Sketchbooks”, reforça o pintor, o
fotógrafo, o literato, o poeta, enfim o dispersivo intelectual, artista,
professor e pai de família (hoje com 4 bisnetos e um a caminho, pela neta Gabi).
Nada inteira, uma reputação que nunca
tive. Juntar a isso o ativismo de certa época (anos 80). Eu, talvez uma lenda...
Lenda? Olha a pretensão!... feita de inexatidão e de ouvir dizer. Vivi fase
performática e fiz teatro a vida inteira, no palco e no cotidiano. Algum
reconhecimento provinciano alimentou a autoestima. Aderi a ideologias sem
participar socialmente delas... Atitude estético-emocional. Pobres
experimentações, sem resultado conclusivo. Sempre andei no sentido inverso do
socialmente correto. Anarquista? Mas não tão mal comportado. Nunca fui muito moderno, nem caprichosamente
tradicional. Claro que tenho manias conservadoras. Minha arte (em tudo) possui
o traço bizarro, a deformação expressionista. Caos é a praia. Figuras femininas
ganham inúmeras ramificações. Uma constante presença em poucas esculturas e
muitas pinturas e fotos. Mais de uma personalidade ou heterônimos, dificulto
qualquer análise. Sou centrífugo, resistente e frágil. Na variedade de linguagens
muitos delírios e afogamentos... Nem
tanto, como valeria a pena em arte. Dezenas de anos trabalhando num único
romance. Alguns contos e centenas de ensaios. Meu projeto de vida possui endereço
certo: o apuro da personalidade, timidamente voltado para a transcendência... e
passando isso a adeptos. Hoje, principalmente, através de blogs. Checado, eu
escapo. Difícil aceitar avaliações. Alma, espírito, “além”, base triangular para
quem considera a vida aprendizagem constante. Endereço para maior melhorar o
espírito. O forte, talvez sejam as revisões que faço da própria trajetória, pensando
no amor como importante amálgama. Sem ele nos empobrecemos. Amor e doação... Na
doação, o mais complicado. Exige árduo enfrentamento para o que é personalismo
(egoísmo e orgulho). Nunca precisei de auxílios extremos. Mas o que tenho de
bom (olha a empáfia), devo a pessoas amorosas e incríveis, verdadeiros mestres
– intelectuais, artistas e familiares. Destaco a Maria. Sem ela, o balanço perigoso
da corda. Claro que mentores espirituais, acredito, constituem fator essencial.
Em missão como algo aberto, minha vida inclui falhas e acertos, aos poucos
conscientizados. Irrompe uma espécie de claridade solar em buraco negro por onde
a gente entrou, norte do destino. Avis rara,
provocação fria, nada aleatória, de uma vida que se realiza como rabiscos na lousa
da personalidade. Não me vejo como imagem completa... Ninguém conhece a si
mesmo. Equilibração na corda que ora parece bamba, ora rígida, corajosa inconstância.
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