Creio que ninguém dúvida de que somos
administrados pela lógica da produção. Produção, o feito, o realizado, seja na
órbita que for. Tudo dependendo dos resultados alcançados. Da louça que se lava
à ponte que se constrói. Valores
básicos: eficiência (meios) e eficácia (objetivos). A rebeldia tornada
mercadoria. O jeans, status alternativo, vira peça cara de consumo. A
necessidade de se contestar o capitalismo... Só que, sem ele, medraria o
desemprego e a não satisfação de mínimas necessidades de sobrevivência e
conforto. A ameaça é quando o dinheiro vira um fim em si mesmo. Sucesso
representa acúmulo de bens, com o supérfluo prevalecendo. Certo que, hoje, parece
que se cuida mais do corpo, tal a proliferação de academias e do caminhar nos
jardins. A pergunta: Corpo e mente integrados, ou malhados a partir da
instrumentalidade e funcionalidade? Neste caso, como moeda de troca e vitrine
sedutora. Na ordem capitalista entra a medicina intervencionista, invasiva.
Predomina o espírito corporativo, garantia da estabilidade das instituições e
do sistema de poder. Como fica o indivíduo nessa história? Verdade que aumentou
a longevidade, mas e as formas espiritualizadas de homenageá-la? Uma
sensibilidade melhor apurada, o aumento da cooperação e da solidariedade...
Estas palavras não se tornaram descartáveis pela ótica utilitária? Como vai o
“saber sensível”, quando o peso do outro e da coletividade conta como valor
maior, inclusive acrescido pelo respeito à integralidade humana, ao meio
ambiente e à natureza? Mais importante é
representar ou apresentar? Na vida cotidiana, a preocupação com resultados
procura encurtar caminhos. Um passo para a violência contra pessoas, coisas e
objetos. O endereço passa a ser a lixeira, incluindo sensações e sentimentos.
Intuição se torna palavra morta. Atingir metas... que se dane o resto. A
medida: razão calculante. A lógica do industrialismo é vender o supérfluo, tudo
invadindo (Toynbee). Tal o crescimento cumulativo, como esparadrapos na pele, que
o grandioso e mais pesado – como os dinossauros – tenderá a desaparecer.
Comercializa-se o significante, não o significado. Van Gogh vira privilégio
bancário (tratamento vip), Picasso nome de carro luxuoso. O corpo, na
modernidade, é construção social. Ele como modelos (F. Capra) e máquina
(Descartes). Daqui resulta: Para o sistema médico e farmacológico, como para as
oficinas, quanto mais estragos nas pessoas e nos objetos, melhor. Filme: “O Jardineiro
Fiel”, de Fernando Meireles. Antidepressivos? Forma de tirar a responsabilidade
do próprio corpo. Quando o sagrado passará a ser uma “volta às origens”?
(Uma recomendação: O livro de
João-Francisco Duarte Jr. “O sentido dos sentidos” e as sugestões
bibliográficas contidas nele.)
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