27/12/2013

O SABER SENSÍVEL



Creio que ninguém dúvida de que somos administrados pela lógica da produção. Produção, o feito, o realizado, seja na órbita que for. Tudo dependendo dos resultados alcançados. Da louça que se lava à ponte que se constrói.  Valores básicos: eficiência (meios) e eficácia (objetivos). A rebeldia tornada mercadoria. O jeans, status alternativo, vira peça cara de consumo. A necessidade de se contestar o capitalismo... Só que, sem ele, medraria o desemprego e a não satisfação de mínimas necessidades de sobrevivência e conforto. A ameaça é quando o dinheiro vira um fim em si mesmo. Sucesso representa acúmulo de bens, com o supérfluo prevalecendo. Certo que, hoje, parece que se cuida mais do corpo, tal a proliferação de academias e do caminhar nos jardins. A pergunta: Corpo e mente integrados, ou malhados a partir da instrumentalidade e funcionalidade? Neste caso, como moeda de troca e vitrine sedutora. Na ordem capitalista entra a medicina intervencionista, invasiva. Predomina o espírito corporativo, garantia da estabilidade das instituições e do sistema de poder. Como fica o indivíduo nessa história? Verdade que aumentou a longevidade, mas e as formas espiritualizadas de homenageá-la? Uma sensibilidade melhor apurada, o aumento da cooperação e da solidariedade... Estas palavras não se tornaram descartáveis pela ótica utilitária? Como vai o “saber sensível”, quando o peso do outro e da coletividade conta como valor maior, inclusive acrescido pelo respeito à integralidade humana, ao meio ambiente e à natureza?  Mais importante é representar ou apresentar? Na vida cotidiana, a preocupação com resultados procura encurtar caminhos. Um passo para a violência contra pessoas, coisas e objetos. O endereço passa a ser a lixeira, incluindo sensações e sentimentos. Intuição se torna palavra morta. Atingir metas... que se dane o resto. A medida: razão calculante. A lógica do industrialismo é vender o supérfluo, tudo invadindo (Toynbee). Tal o crescimento cumulativo, como esparadrapos na pele, que o grandioso e mais pesado – como os dinossauros – tenderá a desaparecer. Comercializa-se o significante, não o significado. Van Gogh vira privilégio bancário (tratamento vip), Picasso nome de carro luxuoso. O corpo, na modernidade, é construção social. Ele como modelos (F. Capra) e máquina (Descartes). Daqui resulta: Para o sistema médico e farmacológico, como para as oficinas, quanto mais estragos nas pessoas e nos objetos, melhor. Filme: “O Jardineiro Fiel”, de Fernando Meireles. Antidepressivos? Forma de tirar a responsabilidade do próprio corpo. Quando o sagrado passará a ser uma “volta às origens”?

(Uma recomendação: O livro de João-Francisco Duarte Jr. “O sentido dos sentidos” e as sugestões bibliográficas contidas nele.)

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