Se a leitura é um valor importante, penso em livros que nos auxiliam na
luta pela vida. Não é à-toa que obras de autoajuda são hoje muito procuradas.
As pessoas querem buscar o sentido da própria existência. Lembro o best seller
“Como fazer amigos e influenciar pessoas”, com a primazia de vendas.
Bem antes do surgimento da internet – hoje uma alternativa a mais para a
compreensão do mundo – , busca-se nos livros (impressos em papel e digitais),
formas de “fugir aos males sem os experimentar”. A leitura da Bíblia e dos
evangelhos sempre a referência, só perdendo para os cultos religiosos pela
presença física mais ativa.
Nossa sociedade está pouco preparada para a realização plena do
homem, em virtude da fissura pela
produção e pelo consumo de coisas. É só entrar nos grandes estabelecimentos
comerciais e ver o que existe de itens supérfluos... milhares e milhares. O que
resta para que a gente tenha as principais necessidades satisfeitas, e se
sentindo protegido e amado?
Mais importante do que o nível de vida é a qualidade de vida. O que as
normas coletivas ditam, e o que a conduta individual acata? Vontade e capacidade de escolha precisam ser encaradas
e fortalecidas.
E o papel da sociedade e dos poderes? O dado político de que a democracia
é a solução, possui um aspecto prático e vital: torná-la realidade com os
cidadãos protagônicos, ou seja, se sentindo parte identificada e participante
nas realizações sociais.
Precisamos de ideias amplas e minuciosamente desenvolvidas. Não basta só
prescrever leis que exaltam a ética e a moral. Cabe aos poderes e aos humanos
pô-las em prática (perdoem a ênfase a verdades universais e de universal
consenso).
Pulando para a prática, como enfrentar a avalanche de estados depressivos,
quando a intolerância às frustrações e ao sofrimento é uma de suas
características? Algo a ser despertado em cada pessoa é a consciência de que
estamos à procura da vida e não da autodestruição.
A instituição familiar deve se definir pela “intimidade
partilhada”. Uma interdependência entre
pais e filhos, avós e netos. Troca benéfica de influências entre parentes,
agregados e amigos. Se o exemplo deve vir de cima, muito se aprende na troca
com os mais novos. Não que normas sociais e critérios legais devam ser
desprezados, pelo fato de essa instituição estar inserida numa realidade
formal. O amor é o aglutinante, embora por vezes possam surgir desavenças pouco
compreendidas. Comum se tratar de expectativas geradas pelo considerado
“politicamente correto” e por dogmas provocadores de atitudes autoritárias.
Distinguir o que é mais estrutural e menos perceptivo (nível de impulsos), sem
maiores consequências entrópricas. Não que deixem de merecer consideração os
pequenos conflitos.
Voltando à leitura, como valor de crescimento humano, a literatura e a
história nos propiciam lições. Tanto obras publicadas em papel, ou digitais,
como filmes romanceados ou documentais. Reflexões, a pessoa diante de
perspectivas a sugerir atitudes e comportamentos a modificar no seu dia a dia.
Existe o que não é de agora, mas tem a ver com nossas origens, inclusive
intelectuais: arquitetura, filosofia, arte, ciência, educação.
Preconceitos de toda ordem; a relação entre opressores e oprimidos; escravidão de forma explícita e velada;
variadas formas de hipocrisia...
Cidades e casas muradas... Vivo atual situação com a construção da casa
do vizinho. Grande muro... a tirar a visão do verde, da terra e dos olhos do
sol. Maria e eu nos sentimos chocados. Depois, tijolos com fendas passaram a
abrigar ninhos de pássaros. No topo do muro, mais tarde, uma cerca elétrica. Vida
entre o limite do poder e do agredido.
Nas cidades da antiguidade, muralhas separavam ricos e pobres. O incrível
progresso material, intelectual e militar, concentração de renda e bens,
condicionantes de marginalidade e pobreza.
Notáveis organizações imperialistas se apropriavam da cultura de outros
povos. Crianças e mulheres marginalizadas, quando não objeto exposto no mercado
de compra e venda. Prisão, tortura e assassinatos nas mãos de poderosos.
A educação servindo a oligopólios
escravagistas. Guerras. Mais mortes, maiores os louros. Projetos explícitos ou
não para dominar o mundo.
Antes correios, no transporte trocas de cavalos (Roma). Hoje a web, menos
energia sem a ajuda das mãos sobre o papel (cartas).
Aviltamento de valores éticos e morais até em nome de Deus. Mãos que
oram e apedrejam. Apedrejamento não nos dez mandamentos, mas nas leis civis...
e no coração dos homens, a partir do medo e do ódio. Sempre formas explícitas
ou não declaradas... A homenagem que o vício presta à virtude (La Rochefoucauld).
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