27/11/2013

HORA DE ACORDAR



Tem a ver com a idade, fim de linha. A gente ajoelha diante da própria consciência. Tempo para reparos. Vamos a mais uma confissão. Não me dou bem com velórios. Principalmente os de pessoas muito queridas. Na realidade não me sinto bem com os quimicamente iguais, forma de Jung se referir a falecidos. Aqui um eufemismo... Está vendo leitor, como o problema existe? De mim com afetos, preferência para guardar a imagem de vivos atuando. Venho pondo isso em prática desde alguns tristes passamentos. Quando não há remédio, costumo não me ver refletido no rosto do morto.  Tenho aprendido com espíritos ausentes que se continua vivo depois da dolorosa transição, geralmente sofrida para quem vai e para quem fica. Ausentes, presentes. Pior, presentes ausentes... Quem que já morreu sem perceber essa condição. É quando se acredita que nada mais há para aprender, que a vida “dá saltos”, o que produz solução de continuidade para desejos e afetos. Abandonar o barco, fora do natural fechamento extremo, por si mesmo, muita covardia. Também acreditar no encurtamento da vida para sofrer menos é pretensão de quem se vê senhor da misteriosa existência. Já encontrei mil desculpas, de grandes intelectuais e artistas, para a morte combinada consigo.  Nega-se aí a riqueza de milímetros de energia que não se desperdiça. Ainda que o paciente e sofredor moribundo peça para que se lhe abrevie a existência, importante permanecer em classe até o final das lições. Vida não é outra coisa senão escola evolutiva, mais do que simples resgates. 

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