Gosto de encarar meu lado que muitos veem como quixotesco. O extraordinário
me fascina, na literatura e na ciência. A filosofia nos serve para especular.
Meu contato com intelectuais pessimistas, ateus, agnósticos, gente racionalista
e descrente, serve para produzir faíscas a mover o meu motor pouco comportado.
Desde o colégio que um colega muito inteligente me chamava de metafísico. Ele
nos ajudava para as provas de física e matemática, a gente passando a madrugada
estudando. Eu bocejava o que acionava o sono do outro companheiro que também
abria a boca num longo espasmo. Pessoas sérias chegam a revelar, pelo menos, aquela “dúvida metódica”
cartesiana. As chamadas provas científicas, respeitáveis, são uma espécie de
farol para todos nós. O que não é comprovado na forma laboratorial, nem por
isso deve ser desprezado. Cientistas que pesquisaram fenômenos metapsíquicos,
muitos, chegaram a confirmar o que não era só verossimilhança. Outros, sérios
agnósticos, preferiram trabalhar na busca de uma “teoria final” que explicasse
o mundo e a vida. Até hoje nada se concluiu. Sobre a imperfeição da natureza e
a saga da ciência na trilha para chegar a verdades, cito Marcelo Gleiser,
físico cosmológico. Artigo dele, publicado na Folha, último domingo
(24/11/2013), termina com a frase: “Explicações mais ordinárias dominam a
ausência de provas extraordinárias”. Ele se referia às abduções, fenômeno em
que pessoas são sequestradas por extraterrestres em nave alienígena. É quando
tende a ocorrer exames médicos sobre reprodução ou de natureza sexual, o sujeito
com marcas misteriosas no corpo. Marcelo observa que relatos de abdução atingem
os milhares. No Brasil ocorreu o primeiro caso de abdução, em 1957. Ganhou
notoriedade.
Considerando a “natureza imperfeita”
pelos mistérios não revelados e, pelo menos, não desvendados; e a ciência com
os seus desacertos, por mais meritória a busca de uma explicação final para
tudo que existe, fico com a especulação e o que contemplo, vejo, ouço, percebo.
Como Heráclito, século VI a.C., minha cosmovisão é estética. Estética tem mais
a ver com sensibilidade do que com a mente quantofrênica. Esta trabalha com
funções, objetivos quantificados... Reconheço a importância da física clássica
mas acredito que “Deus joga dados”. Eu me interesso por asserções
extraordinárias.
Acredito que boa parte das pessoas possui relatos não científicos
(sentido causal, newtoniano), sobre ocorrências metapsíquicas ou tida como espiritistas
ou paranormais. Quem disse que o anormal é desprezível? Nele pode estar
verdadeira riqueza de sentidos, tornando a vida terrena justificável. Há os São
Tomés que precisam tocar sensorialmente para crer, ou um raio para acordar.
Pelo menos uma “dúvida metódica” , face a fenômenos extrassensoriais a desafiar
maior acuidade perceptiva. A sensação de que mortos e encarnados “estamos
vivos” não depende de simples intuição. Nada mais natural do que o sobrenatural.
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