07/11/2012

ANTES DE MIM

Naqueles dias do curso de filosofia na USP eu me sentia como me sinto hoje. Nunca fui um acadêmico no sentido que se entende. De forma inconsciente não perdi o meu jeito de ser: axiomático, sincopado, cubista, juntando o heterodoxo. O que faço é colagem, obra com palavras ou imagens, fragmentada, incompleta. A desculpa, se é que vale se desculpar: Sou disrítmico. Fisiologicamente disrítmico, sem maior gravidade patológica. Costumo fazer, algumas vezes, essa confissão. Antena a captar em várias direções. Daí meu interesse por Nietzsche, nunca estudado a fundo, lendo e entendendo-o de maneira não sistemática. Sou mais pré-operatório. Aliás, o “filósofo do martelo”, nas palavras de Pondé, nunca me pareceu linear. O fato de como professor de filosofia e artes eu agir mais de forma perceptiva, corporal, privilegiando a dança, esse traço é marcadamente nietzscheano. Sei que não primo pela originalidade, numa vida que é romance sem enredo. Inclusive, essa frase tem a ver com Pedro Nava. De vez em quando lembro quem cito...  
O artigo de Luiz Felipe Pondé, saído na Folha, me faz pensar que não estou um filósofo, nem amante do senso comum. Meu consolo é, quando revejo o que fiz em artes e literatura, não saber como as coisas acontecem. Nem saco estórias em filmes de arte. A certeza é que outros já passaram pelo que passei, realizaram algo muito melhor, antes de mim. Certo que sou um intuitivo sujeito a impulsos. O fato de os acadêmicos e artistas sempre escanearem o já produzido, se Kafka fosse vivo – diz Pondé –, escreveria um conto sobre nós (acadêmicos), colocando a gente com cara de ratos. Normatizar e quantificar qualquer produtividade é alimentar, democratizando, quase nada de valor. O mundo, como diria Nietzsche (citação) vomita “ideias modernas”.  

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