10/11/2012

CORPO A CORPO

Posso estar forçando as coisas, além de um surto amplificador da consciência. Como expressionista, em arte, não distingo muito fundo de figura. Pelo menos, em boa parte de minha obra. Gostaria de construir menos em tela do que no espaço real. E trata-se de forma de agir cotidiana, atitude e comportamentos face às mais diversas circunstâncias. Desejo, talvez não muito claro para conseguir maior participação do outro no que faço. O ideal, até um relacionamento corporal e não só visual com a a obra. Não reduzir a vivência do mundo como estética à exploração única das possibilidades visuais. Tensões do olho seriam mais importantes do que a criação de um trabalho intencionalmente artístico. Provocar um corpo a corpo do espectador com a obra. Ele por dentro, ou manuseando o objeto estético, caso de Lygia Clark e Hélio Oiticica. O que acontece também nos poemas-objeto. Subversão do neoconcretismo. O concretismo, por sua vez, leva a pintura a tornar-se experiência ótica. Quase que só. Assim como um “bicho” da Lygia é manuseável, porém sem perder o caráter de estrutura visual. Manipulada, revela as próprias potencialidades. Para Lygia, “o ato é a obra”. Ferreira Gullar, dono de boa parte desse texto diz que “se a pessoa corta a fita de Moebius com uma tesoura, esse ato já é a obra”. E foi através da imagem das superfícies de uma só face que aprendi a proceder à interação de polos como burocracia e participação. Ambas, um conceito único. Gullar continua, falando sobre Lygia: “Ela vai adiante, criando um túnel de seda onde a pessoa entra. Esse entrar é o que importa. Noutras palavras, o que interessa são as sensações que a pessoa experimenta, mediante as situações que Lygia provoca”. Nas minhas performances da época em que fazia teatro, experimentar mistérios, anteriores a qualquer formulação sobre como controlar nossas subjetividades e preconceitos, consistia talvez numa reivenção da arte, o que torna a vida menos pobre, né Gullar?   Performance que fiz em praça de Souzas, próximo a Campinas

Nenhum comentário:

Postar um comentário