20/12/2010

No marulhar


“CLARICE,” (Biografia de Benjamin Moser, COSACNAIFY)
Foto Tati Costa
Meu projeto literário nunca foi primordialmente estético, no sentido de preocupação para fazer arte. Tem a ver com muita reconstrução, já que o mundo não se muda.
Há uma procura espiritual e artística, mas quanto à minha humanização uma descrença. Trata-se de esforço excruciante.
Meu estilo de escrever, já de longa data, implica no uso heterodoxo de maiúsculas. Pontuação rigorosa e a fragmentação cubista de frases assinalam uma forma/conteúdo que sou eu.
De tanto Maria insistir, interrompi a leitura apaixonada de “Clarice,” para ver, na tevê, sarau com Gilberto Gil, filhos, e um violão invejável pelos acordes que sobem e descem, samba em que o tema é o amor. Gil é profundamente humano. Brilho intenso depois de ter passado por tudo na vida, até sendo parlamentar (ministro da cultura). Ele merecia isto?
Ainda sobre Gil: Teve que ceder parte da própria liberdade, aceitando os laços necessários que o unem aos outros. Na última etapa (atual) de sua existência reconsquistou, através da arte – canto, poesia e música – o que, talvez, havia posto de lado... A estética (sensibilidade) que conforta, une e transcende.
Maria me vê como pedante e professoral. Mas quem se preocupa mais com formas de se vestir e comportamento é ela. Comportamento nas relações pessoais e à mesa, na hora das refeições.
Criadores se realizam com atos na contramão.
Preferir sobrevivência a autorrealização é não saber o que fazer consigo mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário