Depois de décadas do abandono de
espaços, antes profícuos, hoje, em dadas circunstâncias, determinantes, ataco
entre aranhas e cobras o que apodreceu e envelheceu. Não que eu seja contra
aranhas e cobras, mas elas chegam a ser importunas. Na fase áurea, anos 80, laboratório
fotográfico semiprofissional comportou tarefas pedagógicas, de experimentação estética
e registros documentais. Época do Movimento em Defesa da Pedra Grande (Atibaia,
anos 80). Sem quase uso, mesmo antes do digital, a oficina analógica serviu de
companheira do espaço maior e de modesta oficina. Lugar antes chamado garagem;
depois, “Espaço do Bispo”. Como guarda de automóvel não deu certo. Transformou-se
em ateliê e oficina de bricolagem. Artes
plásticas e restauro de esculturas do Alderico (meu pai) aconteceram aí, onde moram os meus cajados. Nos tempos, dimensão da
eternidade, a coisa foi-se degringolando. Embora retendo uma positiva energia
histórica. Muito se juntou, numa espécie de “lixo extraordinário”. Respeito
todas as coisas, considerando-as divinas, não obstante choques emocionais. Cosmopolita
ao miscigenar objetos. Tudo cabia ali. A acumulação e o descaso, negligência
para o descartar. Durou o que durou, e ainda está durando o que virou limbo. Insisto
no que emana de boa energia. Espaço atravancado, eu imaginando arranjos mais
decididos. Consolo é a ação, em procedimento. Como coração da “Câmara Clara”
exigia urgentes reparos. A condenação veio e durou; de cima, embaixo e dos
lados. Durante, pelo menos, duas décadas. Imaginem a angústia do responsável
por essa situação – quem vos escreve. Água que vem de um telhado em frangalhos,
telhas quebradas, galhos e ramos de árvores vizinhas, o buraco de entrada para o teto do laboratório, este ameaçando desabar.
O apodrecido, cupins, o leve e o pesado, bichos ruidosos (ratos?), poeira
inominável... Enérgicas goteiras no laboratório e na oficina. Pisos alagados. Canos
entupidos, oficinão e laboratório sem água! Caiação das paredes se despregando.
Momento em que revejo atitutes de
um arcaísmo exemplar. Meus outros espaços, como o “Pensatório” e a “Cave
Lourenço”, agora a prometerem assédio. Enfim, a vida se prolonga do rio para o
mar. O dinâmico instituto de memória e imagem (Câmara Clara) precisava de um
berço revigorado. Presente o paradoxal perturbador.
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