Li, tempos atrás, “Em águas profundas”, precioso livro de David
Lynch, cineasta dos mais importantes. Ideias são como peixes. Há peixes para
tudo, dos pequenos aos grandes. Águas mais rasas e águas profundas. Cada pessoa
merece o peixe que escolhe. Uns pescam por dinheiro, outros pelo simples prazer.
Há quem pesca em silêncio como que meditando consigo mesmo. Os que devolvem os
peixes ao próprio hábitat têm o meu respeito. Muitos os motivos para esse tipo
de esporte (ou arte?). A busca da pura consciência ou do puro conhecimento seria
uma das razões. Conhecimento? Mas como? Sem livros, sem escolas, sem um mestre?
David chama atenção para o ato de meditar, algo sem lugares específicos e
rígidas técnicas. Imagens com mar, por exemplo, caminhando numa praia, em
viagem de avião, uma imersão na natureza. Ato que chega a aguçar a intuição, tornando
a vida mais prazerosa. Ansiedades e medos não são boas coisas, não geram felicidade.
O mesmo para estados negativos, quando existe desencanto ou raiva. Meditação: momento
em que se pratica a pesca de boas ideias. Não se sabe quando a boa ideia vai surgir.
Questão de tempo para que as coisas interessantes aconteçam. Para viver melhor,
meditando e tendo boas ideias, assim como quando se faz arte, necessário uma
certa liberdade. Hoje, graças à tecnologia digital crianças e adultos fotografam.
Diante de uma foto pode-se ter a impressão de que se ouve o vento, que as plantas
se movem, fora do efeito de drogas. Com o livro do cineasta chegamos a sentir o
som de sua voz: coisa fantástica! Vibração sonora do pensamento que imagens podem produzir. Ao começar a meditação,
mergulhando mais fundo, coisas ruins tendem a se dissolver. Surge um estado de
liberdade. Depressão e sofrimento podem ser bonitos em novelas, mas venenosos no
cotidiano das pessoas. Diz David: “Preso nesse torniquete vai ser difícil se
levantar da cama e mais ainda vivenciar o fluxo de criatividade e de ideias”.
Mas, afinal de contas, como é meditar? O
desejo por ideias é como numa pescaria. Quando se pesca é preciso paciência.
Ao transcender, através da meditação, expandimos a consciência. Qual o tamanho
dela? Se do tamanho de uma bola de bilhar, o entendimento possui também essa dimensão.
Assim será quando olhar por uma janela, ao ler um livro, ao se levantar pela
manhã, ao perceber as coisas e durante o transcorrer do dia. Ao ampliar a
consciência pela meditação tudo isso muda. Passamos a ver o lado positivo da
vida. A criatividade chega a fluir. Meditação é um se soltar. Por isso não
existe maneira única de se meditar. Suspender o pensamento da rotina do dia a
dia não é fácil. Mas é possível. Uma pequena palavra, som ou imagem podem
ajudar no início. A postura física tem
um papel aqui, se você quiser. O elemento utilizado é uma forma de a gente se “desidentificar”
do processo mental. Não brigar com o pensamento, forçando-o a parar com o que
lhe ocorre na hora. David Lynch faz isso de manhã, assim que acorda. Quando
chega o final da tarde, se está em alguma atividade, pára, vai para um cantinho,
seja onde for, e completa com a sua meditação ao final do dia. Há mais de
trinta anos que cumpre essa trajetória. Nunca deixou de meditar duas vezes, um único
dia sequer. É algo que poderia ser ensinado de forma gratuita nas escolas.
_________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário