26/11/2016

NÃO TER MEDO DAS IDEIAS

Li, tempos atrás, “Em águas profundas”, precioso livro de David Lynch, cineasta dos mais importantes. Ideias são como peixes. Há peixes para tudo, dos pequenos aos grandes. Águas mais rasas e águas profundas. Cada pessoa merece o peixe que escolhe. Uns pescam por dinheiro, outros pelo simples prazer. Há quem pesca em silêncio como que meditando consigo mesmo. Os que devolvem os peixes ao próprio hábitat têm o meu respeito. Muitos os motivos para esse tipo de esporte (ou arte?). A busca da pura consciência ou do puro conhecimento seria uma das razões. Conhecimento? Mas como? Sem livros, sem escolas, sem um mestre? David chama atenção para o ato de meditar, algo sem lugares específicos e rígidas técnicas. Imagens com mar, por exemplo, caminhando numa praia, em viagem de avião, uma imersão na natureza. Ato que chega a aguçar a intuição, tornando a vida mais prazerosa. Ansiedades e medos não são boas coisas, não geram felicidade. O mesmo para estados negativos, quando existe desencanto ou raiva. Meditação: momento em que se pratica a pesca de boas ideias. Não se sabe quando a boa ideia vai surgir. Questão de tempo para que as coisas interessantes aconteçam. Para viver melhor, meditando e tendo boas ideias, assim como quando se faz arte, necessário uma certa liberdade. Hoje, graças à tecnologia digital crianças e adultos fotografam. Diante de uma foto pode-se ter a impressão de que se ouve o vento, que as plantas se movem, fora do efeito de drogas. Com o livro do cineasta chegamos a sentir o som de sua voz: coisa fantástica! Vibração sonora do pensamento que  imagens podem produzir. Ao começar a meditação, mergulhando mais fundo, coisas ruins tendem a se dissolver. Surge um estado de liberdade. Depressão e sofrimento podem ser bonitos em novelas, mas venenosos no cotidiano das pessoas. Diz David: “Preso nesse torniquete vai ser difícil se levantar da cama e mais ainda vivenciar o fluxo de criatividade e de ideias”. Mas, afinal de contas, como é meditar? O  desejo por ideias é como numa pescaria. Quando se pesca é preciso paciência. Ao transcender, através da meditação, expandimos a consciência. Qual o tamanho dela? Se do tamanho de uma bola de bilhar, o entendimento possui também essa dimensão. Assim será quando olhar por uma janela, ao ler um livro, ao se levantar pela manhã, ao perceber as coisas e durante o transcorrer do dia. Ao ampliar a consciência pela meditação tudo isso muda. Passamos a ver o lado positivo da vida. A criatividade chega a fluir. Meditação é um se soltar. Por isso não existe maneira única de se meditar. Suspender o pensamento da rotina do dia a dia não é fácil. Mas é possível. Uma pequena palavra, som ou imagem podem ajudar no início.  A postura física tem um papel aqui, se você quiser. O elemento utilizado é uma forma de a gente se “desidentificar” do processo mental. Não brigar com o pensamento, forçando-o a parar com o que lhe ocorre na hora. David Lynch faz isso de manhã, assim que acorda. Quando chega o final da tarde, se está em alguma atividade, pára, vai para um cantinho, seja onde for, e completa com a sua meditação ao final do dia. Há mais de trinta anos que cumpre essa trajetória. Nunca deixou de meditar duas vezes, um único dia sequer. É algo que poderia ser ensinado de forma gratuita nas escolas.               


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