Desde as 5 da manhã que certas ideias pululam.
A marca do horário surgiu quando precisei ir ao banheiro. Lembrei episódio
narrado por Tom Jobim sobre Villa-Lobos quando em ambiente agitado por vozes e
ruídos o maestro declarou algo a respeito de ouvidos internos e externos. Tom
perguntou como ele conseguia trabalhar em uma partitura com toda aquela
algazarra e barulho. Villa respondeu atencioso que o que fazia era acionar o
seu ouvido interno. Não deixar que o externo prevalecesse.
Num momento mal-dormido, o bem-dormido eram as
ideias que afloravam. Pensei semiacordado nos papeis dos outros sentidos
materiais. Dependendo da nossa vontade eles também revelam a potencialidade reversível.
Possível você não ouvir os ruídos da construção vizinha, como não ver o que não
vale a pena enxergar.
Hoje sofremos, na casa, a perda do sol pelo
alto muro da construção erguida do meu lado direito. Sentado ao computador a
janela se abre para tijolos de concreto aparente ocupando todo o espaço da casa
e do terreno, cerca de uns duzentos metros. Recebo pouco da luz solar que teima
em me olhar por cima do paredão.
Agora, depois de quarenta anos, a ala esquerda
da casa recebe a ameaça da grande máquina de terraplenagem. Ela anuncia os
terríveis momentos de uma construção a obstruir a visão da Pedra Grande, na
Serra de Itapetinga.
Juntos, Maria e eu, trocamos ideias sobre a possibilidade
de mudar de casa e local.
Somos olhares, pensares, coisas emocionais tão próximas
e registradas pelos cinco ou mais sentidos. O visível e o intocado. Aquilo que
nos faz respirar, o significativo que assinamos embaixo. Seria como parar de
existir como ser emocional, vivente no rio que segue para o escoadouro.
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