(Um texto alterado... A modificação
em vermelho.)
Ainda sob a luz do pessimismo
(artigo anterior), sobra a consciência de nossa
pequenez diante de algo imenso e infinito. Com toda a fragilidade de tudo que
está à nossa volta temos sempre algo a construir. O sol é eterno, jamais se
apagará. O pouco que se conhece é sólida base no processo evolutivo. O espírito
é eterno, nunca deixará de existir, mesmo depois do derradeiro instante. Tudo
se deve à “cadeia de orgasmos”, causa eficiente do que existe. Sentimos e
pensamos, logo, existimos e sempre existiremos. Terra
fértil ou degradada, passos em qualquer dimensão. Pode-se pensar em duas
apenas, havendo escalas em cada uma. Devemos nossas vidas a todos os que
viveram. E não seria demais achar que dependemos dos
companheiros vivos. A vida nunca se extingue (acho que já disse isso). A seiva irrompe das relações interativas com os seres (da
pedra, do vegetal, do animal e dos humanos). Viver, amar, lutar e transcender. A
imagem da energia do touro vem a propósito. Problemas e dores fazem parte do
contexto existencial. Não há razão para exigir
direitos e respeito. Aprender reverência e dizer “obrigado”, por cada impulso
em terras e águas... Uma brisa nos espreita. Acostumar-se
ao respeito pelos que circulam e circularam a nosso redor. Partos, assim como cada
amizade, mereceriam genuflexão. Cada instante de vida é um milagre. Não
existe cadeia de eventos aleatória. O suposto acaso é o caso de tudo. Nossa
vida é possível, não pelo cheiro da caverna aberta, mas pelo que se ouve em seu
interior. O universo não é “um direito cósmico” (outra
vez a questão dos direitos)... Simplesmente, ele é. Humildade face a
existência possui o toque da ideia de graça. Como é
difícil ser humilde! Toda boa teologia começa agradecendo. Coisa pouco
comum hoje em dia. Uma sociedade de obrigações
cultiva a ingratidão. A teologia que “pede” se distancia da espiritualidade que
homenageia as ferramentas do corpo (visão, audição, paladar, olfato, tato,
intelecto, intuição – isso tudo é espírito). Um
presente, quando se continua respirando. E a língua, para falar, outro
privilégio. Sei que há um momento derradeiro em que só
ouvimos (uteí da vida). É quando fechamos a porta com chave, especialmente para
nós próprios. Sei que ofendemos a quem amamos para não cometermos maiores destratos. Uma espiritualidade
séria reconhece a importância da vida doada e que doamos.
O que é bom não cabe só em nós. Certo que ser é
o que vale – estar inteiro no calor de cada ato.
Milagre, agradecimento e graça coroam nossa ignorância. Necessário buscar,
desvendando o que não conhecemos. E se retrair para que
a consciência não expluda. Tal pode acontecer na
atitude do amor exclusivo a si mesmo. Algo que pode iluminar terrenos
baldios ou na beira de abismos. A cegueira do acaso é para espíritos toscos. A
beleza do mundo cura o doente que só implora.
Não estar sempre buscando respostas através de burras perguntas. O que se explica
está na identificação de quem age com o como
agir. Que tal o sentimento de desvelo ao testemunhar toda a beleza do mundo? Ela é, ao mesmo tempo, frágil e imensa? De alguma forma somos dependentes nessa relação. Não
ser religioso, mesmo tendo uma religião. Ritos
concentram energia mas podem virar fetiches, impedindo o espírito de voar.
Passam a escravizar no circunstancial. Fora da hermenêutica
(interpretação de textos), só a prática distingue o numinoso (experiência imediata do divino). O fruto da
percepção espiritualista é a mais plena aceitação do infinito que nos sustenta
e nos faz ver a face de Deus.
(Revisão alterada, um dia após o texto “A face de quem?”, 12/5/16,
depois de um momento em que tivemos atos intempestivos; acréscimo em vermelho.)
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