13/05/2016

A FACE DE QUEM?

(Um texto alterado... A modificação em vermelho.)

Ainda sob a luz do pessimismo (artigo anterior), sobra a consciência de nossa pequenez diante de algo imenso e infinito. Com toda a fragilidade de tudo que está à nossa volta temos sempre algo a construir. O sol é eterno, jamais se apagará. O pouco que se conhece é sólida base no processo evolutivo. O espírito é eterno, nunca deixará de existir, mesmo depois do derradeiro instante. Tudo se deve à “cadeia de orgasmos”, causa eficiente do que existe. Sentimos e pensamos, logo, existimos e sempre existiremos. Terra fértil ou degradada, passos em qualquer dimensão. Pode-se pensar em duas apenas, havendo escalas em cada uma. Devemos nossas vidas a todos os que viveram. E não seria demais achar que dependemos dos companheiros vivos. A vida nunca se extingue (acho que já disse isso). A seiva irrompe das relações interativas com os seres (da pedra, do vegetal, do animal e dos humanos). Viver, amar, lutar e transcender. A imagem da energia do touro vem a propósito. Problemas e dores fazem parte do contexto existencial. Não há razão para exigir direitos e respeito. Aprender reverência e dizer “obrigado”, por cada impulso em terras e águas... Uma brisa nos espreita. Acostumar-se ao respeito pelos que circulam e circularam a nosso redor. Partos, assim como cada amizade, mereceriam genuflexão. Cada instante de vida é um milagre. Não existe cadeia de eventos aleatória. O suposto acaso é o caso de tudo. Nossa vida é possível, não pelo cheiro da caverna aberta, mas pelo que se ouve em seu interior. O universo não é “um direito cósmico” (outra vez a questão dos direitos)... Simplesmente, ele é. Humildade face a existência possui o toque da ideia de graça. Como é difícil ser humilde! Toda boa teologia começa agradecendo. Coisa pouco comum hoje em dia. Uma sociedade de obrigações cultiva a ingratidão. A teologia que “pede” se distancia da espiritualidade que homenageia as ferramentas do corpo (visão, audição, paladar, olfato, tato, intelecto, intuição – isso tudo é espírito). Um presente, quando se continua respirando. E a língua, para falar, outro privilégio. Sei que há um momento derradeiro em que só ouvimos (uteí da vida). É quando fechamos a porta com chave, especialmente para nós próprios. Sei que ofendemos a quem amamos para não cometermos maiores destratos. Uma espiritualidade séria reconhece a importância da vida doada e que doamos. O que é bom não cabe só em nós. Certo que ser é o que vale – estar inteiro no calor de cada ato. Milagre, agradecimento e graça coroam nossa ignorância. Necessário buscar, desvendando o que não conhecemos. E se retrair para que a consciência não expluda. Tal pode acontecer na atitude do amor exclusivo a si mesmo. Algo que pode iluminar terrenos baldios ou na beira de abismos. A cegueira do acaso é para espíritos toscos. A beleza do mundo cura o doente que só implora. Não estar sempre buscando respostas através de burras perguntas. O que se explica está na identificação de quem age com o como agir. Que tal o sentimento de desvelo ao testemunhar toda a beleza do mundo? Ela é, ao mesmo tempo, frágil e imensa? De alguma forma somos dependentes nessa relação. Não ser religioso, mesmo tendo uma religião. Ritos concentram energia mas podem virar fetiches, impedindo o espírito de voar. Passam a escravizar no circunstancial. Fora da hermenêutica (interpretação de textos), só a prática distingue o numinoso  (experiência imediata do divino). O fruto da percepção espiritualista é a mais plena aceitação do infinito que nos sustenta e nos faz ver a face de Deus.

(Revisão alterada, um dia após o texto “A face de quem?”, 12/5/16, depois de um momento em que tivemos atos intempestivos; acréscimo em vermelho.)  


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