08/04/2016

PALAVRA COMO FIM

Conhecida a frase evangélica: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João, cap. 1, v. 1). Ao transpor isso para os dias atuais, penso em acordarmos para o fato de que ninguém tem razão. É ou não é – o que vemos e ouvimos na mídia, televisiva ou impressa. Há tempos, em meus escritos, prevalece a palavra sobre a imagem. Melhor dizendo, o que me chama a atenção é que, cada palavra possui um fundo de palavras. Palavras reveladoras de atitudes e comportamentos. Qual a intenção de quem diz o que diz? A postura é pública ou privada? O sujeito pensa nele mesmo, ou na coletividade? A atitude é republicana – caso dos políticos – ou imperialista? Se a república é substituída pelo império, obviamente não se trata de ideia como coisa pública. O debate político, hoje, é virulento.
Meu último artigo postado em blog e no facebook foi sobre cinema. Focalizei “Os Pássaros”, de Hitchcock. Digo que filme não precisa se autoexplicar. Você tem liberdade para interpretar a ação dos pássaros como quiser. O que eles significam ou representam? Não se fechar na imagem, comparando-os com a beligerância de um grupo qualquer. Ao que parece, escolhi casualmente esse filme, pensando depois no meu “Cinema com Pipoca 2”. A elaboração do segundo livro vai a passos de tartaruga.
Falar de vida e cinema sempre me é velha paixão, ainda mais com o reforço da recente bela obra de Cacá Diegues “Vida de Cinema”.
Nunca me interessei tanto pela política como agora. O sim que vira não e o não que vira sim. Colo aí a conversa que tive dois dias atrás com o Dr. Marco Dangelo. Enquanto ele me falava e mostrava o avanço tecnológico em sua especialidade (odontologia), eu refletia sobre as palavras “parâmetros” e “efeitos”. Sem um bom paradigma (parâmetro), o que se faz pode sair defeituoso.
É o que está acontecendo com nossa política. Passo a quem escreveu “República, democracia, estratocracia...”, Pasquale Cipro Neto. Vou resumir: “Democracia” e “república”; ligarmos isso ao que ocorre no Brasil, há muito tempo, veremos que o que há por aqui ainda está longe do que ensinam a gramática e a história... Penso com meu saudoso mestre G.W.G. Moraes: “abrangente” e “agente”. Ciência, tecnologia e linguagem. Nossas opções devem levar em conta a relação abrangente-agente. Necessário ter parâmetro (paradigma). A discussão de nossos homens públicos gira na confusão entre público e privado, interesses de partido ou pessoais e a “coisa” institucional – coletividade humana. Houaiss refere-se ao sistema político que nos transforma em coisas. Marqueteiros, em geral, atuam aí. A plutocracia nada mais é que o poder nas mãos dos que estão próximos do vértice da pirâmide hierárquica.
Conheço gente que admiro, oscilando entre o “sim” e o “não”. Só há uma definição possível, a que não inclui “salvadores da pátria” – a de nível institucional, tida pelos personagens conhecidos, na prática, como utópica. Para não falar em “estratocracia” (governo militar), cruz-credo!, qualquer “vulgocracia” é melhor do que isso. Obrigado, Marco Dangelo, Contardo Calligaris (“Heranças incômodas”) e professores Pasquale e G.W.G. Moraes. (Os artigos de Pasquale e Calligaris na Folha de 7/4/2016.)    

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