31/12/2015

SEM UTOPIA, VIVER PARA QUÊ?

Sonha-se com uma nova política. Representativa ou não? Democrática sim, mas não centralizadora e autoritária. Nossa atual democracia tem demonstrado que o homem é o lobo do homem. Mudar isso... Mas, como?

Vivi nos anos 1970 experiência inédita com grupos operatórios que estudavam novas formas de pensamento e ação, numa linha mais interacionista. De um lado, o inatismo do tipo “homem animal social”, como os típicos provérbios e o lado maniqueísta, gerador de fundamentalismos. O homem, medida de todas as coisas, nascendo pronto para “acertar”. Próximo a essa visão, o indivíduo que muda o que está fora dele, através de condicionamentos (estímulo-resposta).
Em outro momento histórico ocorre o giro sociocêntrico, quando o homem descobre que precisa se apoiar em outros indivíduos, de maneira cooperativa. Ao deixar a intuição inicial (inatismo) e o condutismo (behaviorismo) chega-se ao interacionismo quando a pessoa ao comer alface vira alface, e a alface se transforma em quem a come.
Hoje podemos perguntar: Quem ainda se prende à fase pré-lógica da inteligência? Observe a centração da criança pequena ou a do adulto embevecido com o poder.  Por volta dos 7 anos é que o indivíduo se vê mais como pessoa. Outras, pela socialização, contribuem nesse sentido. Quando em grupo, através da cooperação é que o indivíduo vai desenvolvendo a capacidade de ser solidário e amoroso... Isso quando o consegue. Num sistema do Deus-dinheiro, em que o poder é o motor movente, acumular bens e obter vantagens a qualquer custo, produz regressão aos anos mais egocêntricos da infância.
Parece que falo de nossos políticos, verdadeiros ptolomeus do sol nasce e o sol se põe. Nada solidários com a coletividade que o elege. Salvo exceções, a grande maioria que ocupa as casas da administração pública e da justiça, as empresas comerciais, industriais, de serviços e as organizações que devem atender às mínimas necessidades  dos cidadãos a respeito da saúde, da alimentação, da moradia, do transporte e da educação.
Agora vem o sonho que motivou este texto. Como gota d’água em pedra martelou-se em minha mente a equação: em vez da escolha pelo voto a pura aceitação do que se propõe. No desdobramento de um processo (começo continuado), troca de ideias em clima cooperativo, medidas tomadas com olhos, mãos, pernas e dentes, em redobrada atenção para se corrigir o que for necessário.
Temos muitos partidos... Talvez necessário só dois (situação e oposição), porém voltados para o que a república literalmente sugere: governo de todos e para todos. Em clima de liderança emergencial, sem inatismo (ninguém nasceu para liderar), os mais aptos coordenam ações em momentos diversos. Possuir abertura sociocêntrica é o paradigma... No sonho, o instituto da votação, gerador de facções, seria substituído por grupos abertos, numa busca de consenso. Nada de votação. Aqui, interesses pessoais imediatistas deixariam o mapa decisório.  O “estar” político, não mais profissão. Apenas uma ajuda de custo de acordo com necessidades mínimas de subsistência e autorrealização. Aliás, isso valeria para todas as instituições, educacionais e religiosas, já que o bem comum é prioritário. Ir além na transformação das consciências para menor artificialismo no consumo de bens e ideias.  Para não ocorrer um “facismo do bem”, quando “verdades” de um saber imposto passam a comandar em quaisquer circunstâncias, caberá estabelecer o que se pode chamar de  dialética constituinte de significados. Sempre atuante por pessoas fraternas em princípios cristãos. Especial cuidado para se evitar atitude dogmatizada nas áreas da filosofia, da ciência e da religião. Vivemos em uma era em que se supervalorizou a ciência, o racional, a explicação.

Se você vê isso como pura utopia, informo que durante anos realizei workshops, seminários com pessoal de empresas industriais, comerciais e de serviços, grupos de professores e outros, além de alunos dos primeiros níveis escolares até o ensino superior. Muitos dos princípios aqui expostos foram ventilados. Sugestão: Ao se sentir longe da atitude interacionista, comece a vivenciar os paradigmas no micro-processo social, na família e em pequenos grupos operatórios e de lazer. É isso.


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