Todos alimentamos utopias, tidas
como quimeras. Muitas conquistas da ciência partiram de utopias.
Há quem diz mais ou menos isto:
utopia que vale a pena é a ambição mais modesta de falhar e, apesar de tudo,
viver ainda para contar.
Artigo, publicado ontem na Folha,
31/3/2015, tem o título “Viver para contar”. Foca o caso do copiloto alemão,
Andreas Lubitz. Faço algumas reflexões, com desculpas para o colunista João
Pereira Coutinho.
Meu saudoso irmão dizia em
estados muito sofridos: “a vida é bela”. Claro que viver é aprender, talvez
para saber mais do que fora da experiência com os pés no chão.
Ser autodestrutivo é o mesmo que
ser destrutivo com relação à humanidade e
às pessoas mais amadas até pelo autor do golpe contra si mesmo. Chamaríamos
isso de distopia?
Pode-se pensar se seremos capazes
de sobreviver entregues ao nosso destino? Triste não acreditar que a própria existência
se sujeita a uma única reparação a ser feita por nós mesmos.
Como tudo se transforma, toda e
qualquer vida, numa criação perfeita ou imperfeita, não fugiria à regra. O que
se exige é menos covardia e mais coragem. Todo empenho reflete insuficiência.
Se há um outro desafio, além da levada
da vida, é a de uma busca eterna, valor inestimável. Busca para compreender o
mundo, as pessoas e a si mesmo.
Nada é irreparável até numa
somatória de erros. Mesmo quando ficamos abismados com o fato de uma doença
instalar-se tão completamente na cabeça do sujeito.
Suicídio e homicídio fazem dueto
numa combinação letal. Depressão, forte medicação, problemas orgânicos a
resolver, expectativas e uma carreira desejada que se frustra...
Quem consegue desvendar o que se passa na alma de outra pessoa? Sei que o fator humano tangível não é tudo. Difícil uma análise que possa acertar diante
dos fatores: assédio, obsessão. Sei que aqui se exigiria forte mudança de
paradigmas. Não é para qualquer um.
A pessoa bebe, ressaca,
medica-se, intoxica-se, sofre desgostos amorosos, tem pensamentos autodestrutivos...
A literatura ajuda? O caso do
morto, pena autoaplicável, sofrendo por longo tempo os horrores que se
infligiu, querendo morrer (!?)... Um mentor, sereno, lhe diz: “Mas você já
morreu...”
Acredito na misericórdia divina.
Sempre há esperança. O amor é expansivo até para os descrentes da caridade e da
sabedoria que abre a cortina da ascensão evolutiva.
Problema é se atrasar muito na
caminhada, a cada passo.
Imagino o sujeito sobrevivendo a
ato extremo praticado contra si... Em programa televisivo, ele parte para uma
cruzada pela preservação da vida... Título: “A vida é bela”.
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