Meus quadros, fotos e pinturas
memorialísticas, não me deixam esquecer da própria história pessoal. O
emocional que me destrambelha ao matar uma barata, é o mesmo da ocasião das
grandes perdas humanas e sociais. Para quem se ocupa de qualidades e busca
significados mais do que acertos, o que transpira racionalidade certa demais é
um incômodo. A poética dos artistas – onde me enquadro – costuma ser a do erro.
Trilhas tortas, levando a fins que se almeja. Surpreender um artista com
porquês, é o mesmo que lhe pedir para contar, em detalhes, o sonho da noite Não
se explicam utopias, nem intuições. Assim como chegam, vão embora na delas. Artistas
estão para além do bem e do mal. Não dá para, depois de admirar a obra descontínua de um
artista, exigir dele que saia da centração egoica.
Se não dialogo com pessoas, eu
o faço com livros, filmes, pensadores e cineastas. É mais do que compensação. Há
um futuro em que a estética (sentimento) nos ajudará a recuperar a forma do
mundo. Dos escombros pode brotar a esperança. O tempo que nos assola, e causa
desespero, é o mesmo a propiciar dias melhores. O gosto pelas coisas sempre
pode ser recuperado. O que por um lado está fora de lugar, por outro é o mais
revelador. O que tardamos a amar, é o que despedaçamos por incapacidade de sair
de nós mesmos.
Sem um mínimo de humildade,
única virtude indestrutível, sobra o charco do ególatra. Voltar-se para Deus e
a espiritualidade exige um autoconhecimento desconhecido para quem nunca se
descobriu cego. O fato de não se perceber o disforme, faz pensar no sonho
inacessível presente no badalar do próprio bronze.
Para biscateiros de problemas
não importam percursos, mas resultados. O que são vidas “bem” resolvidas? Quem
as define assim, é quem se acha dono de si. Pior é a autoindulgência do bom
mocismo. Esquecemos que é possível rir de tudo. Existe o bom e o mau sem
maniqueísmo. Rir das próprias pequenezas é não ter preconceito com a comédia.
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