02/12/2014

VER QUERENDO



Meus quadros, fotos e pinturas memorialísticas, não me deixam esquecer da própria história pessoal. O emocional que me destrambelha ao matar uma barata, é o mesmo da ocasião das grandes perdas humanas e sociais. Para quem se ocupa de qualidades e busca significados mais do que acertos, o que transpira racionalidade certa demais é um incômodo. A poética dos artistas – onde me enquadro – costuma ser a do erro. Trilhas tortas, levando a fins que se almeja. Surpreender um artista com porquês, é o mesmo que lhe pedir para contar, em detalhes, o sonho da noite Não se explicam utopias, nem intuições. Assim como chegam, vão embora na delas. Artistas estão para além do bem e do mal. Não dá para, depois de admirar a obra descontínua de um artista, exigir dele que saia da centração egoica.
Se não dialogo com pessoas, eu o faço com livros, filmes, pensadores e cineastas. É mais do que compensação. Há um futuro em que a estética (sentimento) nos ajudará a recuperar a forma do mundo. Dos escombros pode brotar a esperança. O tempo que nos assola, e causa desespero, é o mesmo a propiciar dias melhores. O gosto pelas coisas sempre pode ser recuperado. O que por um lado está fora de lugar, por outro é o mais revelador. O que tardamos a amar, é o que despedaçamos por incapacidade de sair de nós mesmos.
Sem um mínimo de humildade, única virtude indestrutível, sobra o charco do ególatra. Voltar-se para Deus e a espiritualidade exige um autoconhecimento desconhecido para quem nunca se descobriu cego. O fato de não se perceber o disforme, faz pensar no sonho inacessível presente no badalar do próprio bronze.
Para biscateiros de problemas não importam percursos, mas resultados. O que são vidas “bem” resolvidas? Quem as define assim, é quem se acha dono de si. Pior é a autoindulgência do bom mocismo. Esquecemos que é possível rir de tudo. Existe o bom e o mau sem maniqueísmo. Rir das próprias pequenezas é não ter preconceito com a comédia.

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