17/12/2014

IMPRESSÕES DE UM NEURÓTICO



Imaginem a passagem da arte acadêmica, figurativa, dos anos do Renascimento, até a arte contemporânea. Não foi sem atritos e até agressões virulentas contra artistas. Não penso só na Alemanha nazista, apontando a arte moderna como degenerada. O termo impressionismo surgiu depois de a crítica chamar de impressões aqueles sóis esmaecidos, e figuras deformadas ou fantasmagóricas. Hoje acordei, talvez também em brumas, considerando minhas impressões neuróticas. Felizmente qualquer doença física ou psíquica apresenta graus dos mais tênues aos mais graves. Que a minha não seja das piores. Vamos lá. A internet, com suas redes sociais, parece sofrer de um mal: pensar dói. O positivo é promover o intercâmbio de gostos, perfis, a liberdade de  expor qualquer coisa que passa pela cabeça. Insisto: o pensar dói. Outra coisa que agrava: “navegar é preciso”. É quando percebo que estou vivo. Sendo gente, se falo com gente, se opino, não importa se as opiniões pareçam pruridos ou descargas automáticas de um sonâmbulo. Talvez a noite tenha sido mal dormida. O tempo para me coçar é curto e a vida cotidiana é muito rápida. Há qualidade no que se faz? Se é fruto de prementes necessidades ou não; se me dá prazer ou não; se me sinto submisso, acovardado, repetitivo, opressor... Por quê pensar? Eu me sinto melhor falando sobre o que me agrada ou atormenta, ainda que em nuvens fugazes. Como agora, o que digo não vale o limbo que me espera. Parar, pensar, refletir... Tal semáforo, nem no trânsito se aplica. Preconceitos nascem nos intestinos, Bolsonaro está aí para provar. Nas ruas, gritar pela volta dos militares, com suas torturas, é forma de estapear a história.  Ignorância ou burrice mesmo... Somos contra qualquer violência, seja física ou psicológica. Agora, nas mãos de quem governa, institucionalizada, é pura barbárie. Quer na esquerda, na direita ou no meio. Vejo a violência, inclusive, no entretenimento que substitui a cultura. Cultura não só da complexidade das construções do espírito, intelectualizada, mas das novas ideias, das buscas existenciais para que se viva de forma sensível e inteligente. A que interage e integra. Como neurótico, sei que se trata de um privilégio humano  contra o intolerável. É também defesa face a perigosas percepções. Admito: é mais fácil para um selvagem e uma criança serem sadios.

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