Uma pessoa fala com você. Você responde hum... ou, simplesmente é... Quantas
vezes isso acontece? Quem fala pode achar que você não prestou atenção, não
ouviu direito ou não está interessado. Faz manha? Em outra situação, o que foi
dito é objeto de acurada análise de detalhes. Surge um complemento que até
aprofunda a ideia expressa. Detalhes são acrescentados, reforçando
significados. Tudo muito racionalizado por quem ouviu. Demonstra-se interesse
no que a pessoa disse, ou no que passa pela cabeça do ouvinte? Pode
corresponder ou não à expectativa de quem começou o papo. A fala, como
resposta, é clara e objetiva, ou com síncopes, num linguajar complicado?
Palavras que se juntam a esmo, não de forma linear com começo, meio e fim. Houve
escuta ou surdez? Como se quem responde fosse um burocrata, naturalista, ou
matemático, ou filósofo... Este buscaria significados ocultos, o que estaria
por trás do que é literal... A interpretação, como ocorre hoje nos debates
políticos, pode atribuir ao candidato adversário a pecha de “sonhático”. Adjetivos
e substantivos teriam a ver com utopias, maneira de fantasiar a realidade, coisas
disparatadas. Para maior compreensão do que dissemos a arte tende a ajudar.
Arte é linguagem. A história da arte revela: sonhos, cópia fiel da realidade,
distorções; registro de fatos, costumes, hábitos, vícios; denúncias, flagrantes
cotidianos, volta ao passado, vivências tristes ou alegres, o que é memorável, pequenas
e grandes tragédias, o incomunicável, desvios, acertos... Chega a doutrinar,
apagar, engrandecer, culpar, censurar; mostra o vazio, o pleno, a falta, o
acréscimo, não diz nada... Isto é possível? Há quem propõe a arte pela arte (ars gratia artis). Pensamentos e emoções,
pensamento e ação. Arte primitiva, realismo, devaneios, a representação acadêmica,
impressionismo, expressionismo, surrealismo, cubismo, tachismo, construtivismo,
neoconcretismo, o conceitual, o pop, futurismo, minimalismo, modernismo; o pós
e a mesma palavra pra muita coisa, o ingênuo, o histórico, o figurativo, abstração,
o documental, fovismo, o analógico, o digital... (Dopagem por termos de idêntico
sentido.) Linguagens que se estendem às artes plásticas, rítmicas, verbais, visuais,
cinematográficas, dramáticas, performáticas, literatura... Enfim, à vida. E
haja substantivos e adjetivos. Os verbos ficam para a outra pessoa do diálogo.
Em que praia a gente se coloca? Onde o nosso presente aqui e agora? Há ideias
que surgem na cozinha ou no banheiro, não servindo para nada? Bares são ótimos
espaços para o que dá em nada. Ideias comportam tudo, até produtos de supermercado.
Viver ou não viver das próprias ideias. Cem delas podem não passar de um mecanismo
negativo. Mas navegar é preciso, ainda que em mar revolto. Resulta em motivo de
alívio ou de comemoração. Há sempre um irrealizado que nos espreita. Tão comum
ouvirmos: “O que você está fazendo?” O tempo, imagem da eternidade se movimenta
rápido. Querer menos, uma boa! Projetos que duram uma tarde na praia. O mar é o
“pão do espírito”... Que não se perca o lado lúdico, ou brincadeiras se transformam
em fantasmas a nos perseguir. Ler, ver filmes e fazer literatura melhor do que
estar indo a shoppings. Vale reconhecer mais avanços na vida do que retrocessos.
Não vou a festas e ao ir tenho as minhas saídas... Quando não faço percussão
toco um violão doméstico ou fujo para a escada por onde entrei. Há anos vou destruindo
a minha reputação, por conta do significante status da idade. Querem que eu
sinta o que não sinto. Forma de me empacotarem para despacho. Enquanto a passada
final não vem vou editorializando a vida. As redes sociais mataram a melancolia.
Aprendo a ir, preferindo a linguagem do vácuo e do silêncio. Depois de muito escrever,
eu me recorro à “geração progresso”, da filha de Hélio Pellegrino, Antonia, escritora
e roteirista, dona do livro “Cem ideias que deram em nada”. Preguiçoso, poupei
algumas aspas, também instrumentos de tortura.
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