22/08/2014

POLÍTICO EDUCADO




Ele chega de terno e gravata, abotoa o terceiro botão do paletó, me chama pelo nome, cumprimenta de maneira polida e começa a falar:
- Li o seu artigo “Otimismo sim”. Vamos lembrar um pouco o que você disse:

“Virada no jogo” – expressão para você pensar no jogo que é o jogo. “Não o que tem a ver com esperteza, má-fé, arrogância de poderosos, mas o lúdico em que o participante procura estar inteiro no que faz... E considera as necessidades dos cidadãos.”

A gente vive numa cultura hierarquizada, individualista, competitiva. Necessário ser ambicioso e dividir para se impor. Jogar de forma estratégica o que é mais do que só se defender. Mais importante é marcar gols.

“O bom caráter pesa bastante”... Pesa sim, gerando capachos. A regra é não ter caráter. Tão raro encontrar gente honesta e solidária, que pensa mais nos outros... O importante é fortalecer o próprio território. Conforto pessoal e segurança, pontos relevantes.


 “Em outra matéria falei em democracia ‘não instalada’, sistema político em níveis cada vez mais móveis e estáveis.”
Bobagem. Melhor é uma ditadura democrática... O que temos hoje. Defender com unhas e dentes a imobilidade. Aqui sim, a tática garante a manutenção do status quo. Causas e efeitos devem ser controlados com rigor.  

“Processo ativo de novas ideias, propostas, opções e lances de crescimento econômico e desenvolvimento social.”
Nada mais ameaçador do que novas ideias. Afinal, o mundo só aceitou o que favoreceu a concentração de poder nuns poucos privilegiados.
O que você diz sugere paz... Quer coisa pior? Como ficam a indústria bélica e o comando empresarial do dinheiro? Certo que geram vida em patamares razoáveis de submissão. Como viver sem ajudantes e servidores? Escravos?... Uma palavra feia. Sempre haverá níveis compatíveis na expansão de renda a fortalecê-la para os que têm coragem, talento. Somos sim incansáveis batalhadores em causa própria.
Outra coisa que você fala é o altissonante: “democracia como voz do povo”. Nada é mais estúpido do que essa voz, sempre lamentosa e chamuscada de lugares comuns que atestam ânsia de limpeza para o que vive na lama, ou seja: a ética. Ética, palavra muleta dos inconformados deficientes de tutano.

“Que práticas anacrônicas sejam superadas.” O chamado primarismo político e a visão estreita e dogmática de certos grupos, são o que sustenta a vida dos cidadãos. Sem essas atitudes eles seriam varridos do cenário nacional.

Como tudo é paradoxal – é você quem o diz – pois o mundo flui na dualidade, o abrangente nas ações deverá ser a esperteza.

“Sempre ocorrem descaminhos e vícios, daí a necessidade de maior atenção para que significados sejam revistos e atualizados.”
Essa dialética em cima do que foi constituído é para boi dormir. Sempre normas, costumes e leis foram driblados. O que já está envelhecido são os arroubos para inovar. Utopias respiram o ar fétido das sepulturas.  
Uma governança responsável prescinde do que apregoam manifestantes insatisfeitos. De fato, eles querem é ocupar posições de poder. Aquelas que alimentam privilégios. O povo, como diz a canção é boi tangido... Melhor: para ser tangido com vara pontiaguda.  

                   Assinado: Um político consolador

Nenhum comentário:

Postar um comentário