Ele chega de terno e gravata, abotoa
o terceiro botão do paletó, me chama pelo nome, cumprimenta de maneira polida e
começa a falar:
- Li o seu artigo “Otimismo sim”.
Vamos lembrar um pouco o que você disse:
“Virada no jogo” – expressão para você pensar no jogo que é o
jogo. “Não o que tem a ver com esperteza, má-fé, arrogância de poderosos,
mas o lúdico em que o participante procura estar inteiro no que faz... E
considera as necessidades dos cidadãos.”
A gente vive numa cultura hierarquizada, individualista,
competitiva. Necessário ser ambicioso e dividir para se impor. Jogar de forma
estratégica o que é mais do que só se defender. Mais importante é marcar gols.
“O bom caráter pesa bastante”...
Pesa sim, gerando capachos. A regra é não
ter caráter. Tão raro encontrar gente honesta e solidária, que pensa mais nos
outros... O importante é fortalecer o próprio território. Conforto pessoal e
segurança, pontos relevantes.
“Em outra matéria falei em democracia ‘não
instalada’, sistema político em níveis cada vez mais móveis e estáveis.”
Bobagem. Melhor é uma ditadura democrática... O que
temos hoje. Defender com unhas e dentes a imobilidade. Aqui sim, a tática
garante a manutenção do status quo. Causas e efeitos devem ser controlados com
rigor.
“Processo ativo de novas
ideias, propostas, opções e lances de crescimento econômico e desenvolvimento
social.”
Nada mais ameaçador do que novas ideias. Afinal, o
mundo só aceitou o que favoreceu a concentração de poder nuns poucos
privilegiados.
O que você diz sugere paz... Quer coisa pior? Como
ficam a indústria bélica e o comando empresarial do dinheiro? Certo que geram
vida em patamares razoáveis de submissão. Como viver sem ajudantes e servidores?
Escravos?... Uma palavra feia. Sempre haverá níveis compatíveis na expansão de
renda a fortalecê-la para os que têm coragem, talento. Somos sim incansáveis batalhadores
em causa própria.
Outra coisa que você fala é o altissonante: “democracia como voz do povo”. Nada é mais estúpido do que essa voz, sempre lamentosa e chamuscada de
lugares comuns que atestam ânsia de limpeza para o que vive na lama, ou seja: a
ética. Ética, palavra muleta dos inconformados deficientes de tutano.
“Que práticas anacrônicas
sejam superadas.” O chamado primarismo
político e a visão estreita e dogmática de certos grupos, são o que sustenta a
vida dos cidadãos. Sem essas atitudes eles seriam varridos do cenário nacional.
Como tudo é paradoxal – é você quem o diz – pois o mundo flui na
dualidade, o abrangente nas ações deverá
ser a esperteza.
“Sempre ocorrem descaminhos e
vícios, daí a necessidade de maior atenção para que significados sejam revistos
e atualizados.”
Essa dialética em cima do que foi constituído é para
boi dormir. Sempre normas, costumes e leis foram driblados. O que já está
envelhecido são os arroubos para inovar. Utopias respiram o ar fétido das
sepulturas.
Uma governança responsável prescinde do que apregoam
manifestantes insatisfeitos. De fato, eles querem é ocupar posições de poder.
Aquelas que alimentam privilégios. O povo, como diz a canção é boi tangido...
Melhor: para ser tangido com vara pontiaguda.
Assinado: Um político consolador
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