Quem não dá ou já
deu shows, de natureza límbica (defesa e ataque), na própria família ou entre
famílias? Quem não se descontrolou, até dizendo impropérios, em alguma situação
de grupo, no trabalho, na família, na escola, entre conhecidos e desconhecidos?
É da condição humana. Hoje, lendo “O Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro, sobre
Nelson Rodrigues, minuciosa obra biográfica, reveladora de detalhes do homem e
da época em que viveu, a face oculta de astros é falácia. E como um sujeito
chega ao píncaro da glória dramatúrgica com tantos “defeitos de fabricação”.
Defeitos é o que não nos falta. Pelo que sei a excelente obra de Ruy não sofreu
impedimentos, o que ocorreu com aquela outra, do mesmo autor, sobre Garrincha. Impedir
a publicação de biografias, por exigência de autorização do autor (caso Roberto
Carlos), de família ou herdeiros, é chamar
o leitor de idiota. A noção de que nem tudo se deve divulgar, seja verdade ou
mentira, fica para quem minucia vidas humanas e fatos da vida. Que o leitor julgue
até que ponto há uma cortina de fumaça encobrindo o que seria mais revelador
para se conhecer o personagem – lados mais sombrios. Estamos habituados à mídia
sensacionalista ou escavadora de aspectos menos transparentes ou de coisas escabrosas
deste mundo de Deus. Millôr já perguntava: “Tudo deve ser divulgado?” Lembro a
educadora Zenaide de Araújo dizendo: “O que se divulga, educa”. O que não se
deve é menosprezar o leitor e espectador na sua capacidade de julgamento. Claro
que uma maior concentração no que está podre em nosso sistema social passa a
ser algo doentio. Temos o exemplo sincrônico de fatos criminosos ocorridos em outro
país (ou mesmo lá ou aqui), que se repetem no espaço/tempo. O poder da mídia,
com sua agenda corriqueira de atos ilícitos, comprova isso. Quase todos os
jornais televisivos se parecem. Começam o “dial” com ocorrências criminosas.
Forma de pegar o telespectador no limbo (antes do batismo). E o crime passa a
ser “o melhor negócio”. Coisa de um senso às avessas. Lauro de O. Lima criou treinamento
que visava superar percalços, tipo tabus e arcaísmos, obstáculos à maturação cooperativa do ser humano. Grupos no
estado de ausência de normas, em mera contiguidade, ou gente dominada por indivíduos
centralizadores de poder e decisão, dificilmente chegam à autonomia de pensamento
e ação, à cooperação e mais plena comunicação. Nos seminários os participantes
dramatizavam papéis de liderança, cooperação, obstrução, de narrador, de quem
opina, quem “dá” aula, quem só ouve, quem cria; os “graves”, “compenetrados”, “trágicos”,
“escamoteadores”, “agressivos”, “irônicos”, “os tensos”, etc. Desempenhos
provocavam o importante trabalho de grupoanálise. Enfim, cooperação se aprende!
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