27/05/2014

APRENDER A COOPERAR



Quem não dá ou já deu shows, de natureza límbica (defesa e ataque), na própria família ou entre famílias? Quem não se descontrolou, até dizendo impropérios, em alguma situação de grupo, no trabalho, na família, na escola, entre conhecidos e desconhecidos? É da condição humana. Hoje, lendo “O Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro, sobre Nelson Rodrigues, minuciosa obra biográfica, reveladora de detalhes do homem e da época em que viveu, a face oculta de astros é falácia. E como um sujeito chega ao píncaro da glória dramatúrgica com tantos “defeitos de fabricação”. Defeitos é o que não nos falta. Pelo que sei a excelente obra de Ruy não sofreu impedimentos, o que ocorreu com aquela outra, do mesmo autor, sobre Garrincha. Impedir a publicação de biografias, por exigência de autorização do autor (caso Roberto Carlos), de família ou herdeiros,  é chamar o leitor de idiota. A noção de que nem tudo se deve divulgar, seja verdade ou mentira, fica para quem minucia vidas humanas e fatos da vida. Que o leitor julgue até que ponto há uma cortina de fumaça encobrindo o que seria mais revelador para se conhecer o personagem – lados mais sombrios. Estamos habituados à mídia sensacionalista ou escavadora de aspectos menos transparentes ou de coisas escabrosas deste mundo de Deus. Millôr já perguntava: “Tudo deve ser divulgado?” Lembro a educadora Zenaide de Araújo dizendo: “O que se divulga, educa”. O que não se deve é menosprezar o leitor e espectador na sua capacidade de julgamento. Claro que uma maior concentração no que está podre em nosso sistema social passa a ser algo doentio. Temos o exemplo sincrônico de fatos criminosos ocorridos em outro país (ou mesmo lá ou aqui), que se repetem no espaço/tempo. O poder da mídia, com sua agenda corriqueira de atos ilícitos, comprova isso. Quase todos os jornais televisivos se parecem. Começam o “dial” com ocorrências criminosas. Forma de pegar o telespectador no limbo (antes do batismo). E o crime passa a ser “o melhor negócio”. Coisa de um senso às avessas. Lauro de O. Lima criou treinamento que visava superar percalços, tipo tabus e arcaísmos, obstáculos à  maturação cooperativa do ser humano. Grupos no estado de ausência de normas, em mera contiguidade, ou gente dominada por indivíduos centralizadores de poder e decisão, dificilmente chegam à autonomia de pensamento e ação, à cooperação e mais plena comunicação. Nos seminários os participantes dramatizavam papéis de liderança, cooperação, obstrução, de narrador, de quem opina, quem “dá” aula, quem só ouve, quem cria; os “graves”, “compenetrados”, “trágicos”, “escamoteadores”, “agressivos”, “irônicos”, “os tensos”, etc. Desempenhos provocavam o importante trabalho de grupoanálise. Enfim, cooperação se aprende!  

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