20/04/2014

ALÉM DO QUE VEJO, OUÇO, PERCEBO



Tenho falado sobre ciência e religião, física e metafísica, arte e vida, áreas que se complementam. Componho minha filosofia lembrando autores como o físico Marcelo Gleiser e o psiquiatra desencarnado Inácio Ferreira. Espero, na falta de um método, também citar outros que me influenciam. Quem de fato está refletindo? A “fé raciocinada” de Kardec é um parâmetro. Talvez, pela idade avançada, sinta também motivação para ir demolindo sistemas que encobrem nossa natureza espiritual. Os filósofos Pondé e Olavo de Carvalho, sacudidos pela “precariedade da vida”, têm me ajudado na sua iconoclastia. As palavras fé e confiança possuem a mesma raiz. Confiança significa “com fé”. Está presente em religiosos e cientistas, como atitude séria de busca. Pode-se encontrar denominadores comuns em gente de distintas visões.

Sempre fui um articulador de ideias. Penso o que outros pensaram. A roupa que vestimos não foi feita por nós. É ajustada ao nosso corpo. Trata-se de uma organicidade. Não mera soma de elementos heteróclitos. Qualquer autoria é fruto de reverberações. A socialização de saberes e experiências transforma o mundo. Aprimora-se o ver, o ouvir e o perceber. Além da janela do corpo está a alma.    

Acreditar fora dos padrões conhecidos e consagrados é dívida para com a espiritualidade. Aqui, ao que parece, principalmente para a mente acadêmica materialista, tem-se uma zona de silêncio, igual a zero. É como se propelir para uma contagem regressiva, como a anterior ao lançamento de foguetes. Espaço de pureza e claridade. A coragem para entrar nele anuncia nova vivacidade a conquistar.

Se existe dúvida, que seja aquela metódica de que falava Descartes, não a do ceticismo que nos enrijece para as coisas fora da órbita mundana. Vacilar é próprio do homem... Geralmente ocorre quando se sai do aqui e do agora. Dando tratos à imaginação de forma inadequada nos fragilizamos, com insegurança ou medo. O inadequado é quando sofremos passivamente pelo que de ruim aconteceria. Estudo e reflexão, compartilhamento de boas experiências, ocupação da cabeça com algo positivo para a alma, ajudam. Equação necessária: tempo e movimento.

Se você é um religioso militante, ou um fundamentalista científico, que tal encarar mais a fundo a questão da espiritualidade? Eis quando pode ocorrer um alargamento da consciência. O que parece improvável pode se tornar possível. Com relação a saberes pluralistas, do tipo música e astrologia, instrumentos diferentes entre si, tocados juntos, chegam a produzir inefável melodia. Sei que tolerância pode se tornar algo complicado, mas aceitar a diversidade é sofrer menos ameaça do que é diferente. O duvidar metódico, a que já me referi, não cético, colabora.

Intolerância é reflexo de não se aceitar o filho como ele é; não ouvir quem professa outra ideologia ou religião; não entender que as diferenças são mais importantes do que as semelhanças. Diferenças têm a ver com ritmos (atitudes, comportamentos, cosmovisão). Um mundo só de semelhantes em “berço esplêndido”, só serve para se dormir. Vida nasceu de uma explosão – o big bang. É o que destrói e cria ao mesmo tempo... Mentes fechadas se predispõem a colapsos. As abertas recebem um “empurrão” extra para a expansão.

O universo está, hoje, em movimento de expansão, o que é também sugerido pela espiritualidade.    
Fervor e rigidez, tanto no religioso como no cientista, não devem precipitar quedas fatais num desespero existencial. O tempo integra, não divide. A proposta é: ciência, fé e artes irmanadas. A troca de energia entre as pessoas, e das pessoas com o mundo de fora, podem impedir desorganizações e até a prematura morte. Ainda que se a veja como “passagem”, ela representa processo degenerativo do que é material (entropia).

Como se diz, e costumo repetir, o tempo é a imagem em movimento da eternidade. Na passagem das horas e dos dias, ocorre o mesmo para uma bactéria, um ser humano, uma estrela e o universo. No tempo cósmico encontramos a profunda união de todas as coisas.

Vamos imaginar uma pessoa que consegue se expandir no terreno  da espiritualidade. (O termo terreno sugere que se pisa na terra da espiritualidade, sem maior ruptura entre vida e morte.) Quais as consequências mais imediatas com as pessoas à sua volta, as mais próximas? Elas terão de se confrontar, pelo menos, com a questão do tempo. O tempo nas suas vidas. De um lado, os que acreditam nas transformações da natureza, natureza-cosmo e natureza-humana, o devir; do outro lado, os que sentem ou defendem a imutabilidade.  Imaginam que nada muda, no mundo e nos seres. Postulam a existência do eterno e do indestrutível mal que habita corações e mentes. Pode-se ver tal dualidade em termos de espírito e matéria, bem e mal. Opostos interagem.  

Em um canto podemos ter a mão do tempo; de outra parte, a mão de Deus. Como ficam a ciência e a racionalidade? Aprendemos com G.W.G. Moraes que no par de opostos temos o abrangente (paradigma) e o agente (problema, num primeiro momento). Sempre a necessidade de optar. A vida é assim. E o que é abrangente, no instante seguinte pode virar agente. Natureza, como abrangente, face à Cultura, pode virar agente. Exemplo é se você planta árvore gigante próximo aos alicerces da casa...

Se existisse só razão, não haveria nem ciência. Pensem na astronomia dependendo da astrologia, a química e a física sem a base da alquimia; a física einsteiniana e a de Newton desembocando na das diminutas partículas – física quântica. As coisas operando de fora para dentro (religião), ou de dentro para fora, como consequência de causas naturais (ciência).

Existe um “antes”, antes de o tempo existir? Nossas noções de espaço e tempo se desintegram em uma sopa em que todos os tempos e geometrias são possíveis.  Histórias coexistem. O antes e o depois sumiram. O que deu o primeiro empurrão à vida? A noção de tempo vai muito além de nossa percepção. Resta-nos uma inspiração essencialmente espiritual por trás do ato racional e científico de se compreender o mundo e a existência humana.

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