Tenho
falado sobre ciência e religião, física e metafísica, arte e vida, áreas que se
complementam. Componho minha filosofia lembrando autores como o físico Marcelo
Gleiser e o psiquiatra desencarnado Inácio Ferreira. Espero, na falta de um
método, também citar outros que me influenciam. Quem de fato está refletindo? A
“fé raciocinada” de Kardec é um parâmetro. Talvez, pela idade avançada, sinta
também motivação para ir demolindo sistemas que encobrem nossa natureza
espiritual. Os filósofos Pondé e Olavo de Carvalho, sacudidos pela
“precariedade da vida”, têm me ajudado na sua iconoclastia. As palavras fé e
confiança possuem a mesma raiz. Confiança significa “com fé”. Está presente em
religiosos e cientistas, como atitude séria de busca. Pode-se encontrar
denominadores comuns em gente de distintas visões.
Sempre
fui um articulador de ideias. Penso o que outros pensaram. A roupa que vestimos
não foi feita por nós. É ajustada ao nosso corpo. Trata-se de uma organicidade.
Não mera soma de elementos heteróclitos. Qualquer autoria é fruto de
reverberações. A socialização de saberes e experiências transforma o mundo.
Aprimora-se o ver, o ouvir e o perceber. Além da janela do corpo está a
alma.
Acreditar
fora dos padrões conhecidos e consagrados é dívida para com a espiritualidade. Aqui,
ao que parece, principalmente para a mente acadêmica materialista, tem-se uma
zona de silêncio, igual a zero. É como se propelir para uma contagem
regressiva, como a anterior ao lançamento de foguetes. Espaço de pureza e
claridade. A coragem para entrar nele anuncia nova vivacidade a conquistar.
Se
existe dúvida, que seja aquela metódica de que falava Descartes, não a do
ceticismo que nos enrijece para as coisas fora da órbita mundana. Vacilar é
próprio do homem... Geralmente ocorre quando se sai do aqui e do agora. Dando
tratos à imaginação de forma inadequada nos fragilizamos, com insegurança ou
medo. O inadequado é quando sofremos passivamente pelo que de ruim aconteceria.
Estudo e reflexão, compartilhamento de boas experiências, ocupação da cabeça
com algo positivo para a alma, ajudam. Equação necessária: tempo e movimento.
Se
você é um religioso militante, ou um fundamentalista científico, que tal
encarar mais a fundo a questão da espiritualidade? Eis quando pode ocorrer um
alargamento da consciência. O que parece improvável pode se tornar possível.
Com relação a saberes pluralistas, do tipo música e astrologia, instrumentos
diferentes entre si, tocados juntos, chegam a produzir inefável melodia. Sei
que tolerância pode se tornar algo complicado, mas aceitar a diversidade é
sofrer menos ameaça do que é diferente. O duvidar metódico, a que já me referi,
não cético, colabora.
Intolerância
é reflexo de não se aceitar o filho como ele é; não ouvir quem professa outra ideologia
ou religião; não entender que as diferenças são mais importantes do que as
semelhanças. Diferenças têm a ver com ritmos (atitudes, comportamentos,
cosmovisão). Um mundo só de semelhantes em “berço esplêndido”, só serve para se
dormir. Vida nasceu de uma explosão – o big
bang. É o que destrói e cria ao mesmo tempo... Mentes fechadas se
predispõem a colapsos. As abertas recebem um “empurrão” extra para a expansão.
O
universo está, hoje, em movimento de expansão, o que é também sugerido pela
espiritualidade.
Fervor
e rigidez, tanto no religioso como no cientista, não devem precipitar quedas
fatais num desespero existencial. O tempo integra, não divide. A proposta é:
ciência, fé e artes irmanadas. A troca de energia entre as pessoas, e das
pessoas com o mundo de fora, podem impedir desorganizações e até a prematura
morte. Ainda que se a veja como “passagem”, ela representa processo
degenerativo do que é material (entropia).
Como
se diz, e costumo repetir, o tempo é a imagem em movimento da eternidade. Na
passagem das horas e dos dias, ocorre o mesmo para uma bactéria, um ser humano,
uma estrela e o universo. No tempo cósmico encontramos a profunda união de
todas as coisas.
Vamos
imaginar uma pessoa que consegue se expandir no terreno da espiritualidade. (O termo terreno sugere
que se pisa na terra da espiritualidade, sem maior ruptura entre vida e morte.)
Quais as consequências mais imediatas com as pessoas à sua volta, as mais
próximas? Elas terão de se confrontar, pelo menos, com a questão do tempo. O
tempo nas suas vidas. De um lado, os que acreditam nas transformações da
natureza, natureza-cosmo e natureza-humana, o devir; do outro lado, os que
sentem ou defendem a imutabilidade. Imaginam
que nada muda, no mundo e nos seres. Postulam a existência do eterno e do
indestrutível mal que habita corações e mentes. Pode-se ver tal dualidade em
termos de espírito e matéria, bem e mal. Opostos interagem.
Em
um canto podemos ter a mão do tempo; de outra parte, a mão de Deus. Como ficam
a ciência e a racionalidade? Aprendemos com G.W.G. Moraes que no par de opostos
temos o abrangente (paradigma) e o agente (problema, num primeiro momento).
Sempre a necessidade de optar. A vida é assim. E o que é abrangente, no
instante seguinte pode virar agente. Natureza, como abrangente, face à Cultura,
pode virar agente. Exemplo é se você planta árvore gigante próximo aos
alicerces da casa...
Se
existisse só razão, não haveria nem ciência. Pensem na astronomia dependendo da
astrologia, a química e a física sem a base da alquimia; a física einsteiniana e
a de Newton desembocando na das diminutas partículas – física quântica. As
coisas operando de fora para dentro (religião), ou de dentro para fora, como
consequência de causas naturais (ciência).
Existe
um “antes”, antes de o tempo existir? Nossas noções de espaço e tempo se
desintegram em uma sopa em que todos os tempos e geometrias são possíveis. Histórias coexistem. O antes e o depois sumiram.
O que deu o primeiro empurrão à vida? A noção de tempo vai muito além de nossa
percepção. Resta-nos uma inspiração essencialmente espiritual por trás do ato
racional e científico de se compreender o mundo e a existência humana.
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