Na escrita gravito
entre dois lados: o redigir é reduzir, de G.W.G. Moraes; e por que usar dez
palavras se você pode usar cem?, de Paco de Lucía. O músico se refere a
notas... Afinal, tudo são notas, palavras e ritmos. O maior instrumentista
flamenco nos deixou há pouco, sempre trabalhando com várias influências. Ser
simples para essencializar e complexo, mistura de estilos e ritmos. Quem disse que
no complexo não se essencializa? Me perturba seguir regras, mas em se tratando
de língua, sou mais obediente do que inovador. Aquecer os dedos e as mãos com a
caneta e o teclado do PC. Não ser um sequestrado pelo tempo, mas sequestrando o
tempo. Não ficar falando sobre o que se escreve... Se não me tocar, ao redigir,
pelo estado de graça, o leitor não perceberá a “dança das palavras”, nem quando
acontece a epifania. Só escrevo, ou muito escrevo, ouvindo música. Meus
primeiros e-books talvez assinalem nova etapa. A partir daí imagino
experimentações. O fato de não deixar perder antigos escritos tem a ver com as
águas de março. Evito efeitos, em alguns textos mais, em outros menos. Leitura
nas entrelinhas. Eis o desafio que me faço. Clareza não é o meu forte. Ideias
distintas também não. Há sutilezas fraseológicas que nem desvendo logo de cara.
Perceber o gestual, talvez o que mais importa. Jeito interiorano não comparável
com a pureza do meu irmão Denizar, outro que ontem nos deixou. Bailado horizontal e vertical das palavras.
Espalho ao redor sonhos e as dores da vida. Ipansotera, termo que criei, é o
diapasão, tamborilando alegria e tristeza. Sei que nada tenho de universal, a
não ser o caráter de humanidade. Não gosto de ficar dizendo o que são meus livros.
Ao explicá-los, perde-se a graça. Também não quero ser quem se deixa seduzir
pelo que dizem de nós. O epíteto de artista, por exemplo. Sou um ritualista. Não
me embalo com a própria voz, nem sinto orgulho de muita coisa, principalmente o
acontecido na fase da busca por posições de prestígio. Sou péssimo agente de
mim mesmo. Nunca fui virtuoso em nada. Houve poucas coisas que deram certo por
elas mesmas, com a contribuição de gente maravilhosa. Acho que no contexto ocorreu
algum esforço.
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