01/03/2014

MÚSICA E LITERATURA



Na escrita gravito entre dois lados: o redigir é reduzir, de G.W.G. Moraes; e por que usar dez palavras se você pode usar cem?, de Paco de Lucía. O músico se refere a notas... Afinal, tudo são notas, palavras e ritmos. O maior instrumentista flamenco nos deixou há pouco, sempre trabalhando com várias influências. Ser simples para essencializar e complexo, mistura de estilos e ritmos. Quem disse que no complexo não se essencializa? Me perturba seguir regras, mas em se tratando de língua, sou mais obediente do que inovador. Aquecer os dedos e as mãos com a caneta e o teclado do PC. Não ser um sequestrado pelo tempo, mas sequestrando o tempo. Não ficar falando sobre o que se escreve... Se não me tocar, ao redigir, pelo estado de graça, o leitor não perceberá a “dança das palavras”, nem quando acontece a epifania. Só escrevo, ou muito escrevo, ouvindo música. Meus primeiros e-books talvez assinalem nova etapa. A partir daí imagino experimentações. O fato de não deixar perder antigos escritos tem a ver com as águas de março. Evito efeitos, em alguns textos mais, em outros menos. Leitura nas entrelinhas. Eis o desafio que me faço. Clareza não é o meu forte. Ideias distintas também não. Há sutilezas fraseológicas que nem desvendo logo de cara. Perceber o gestual, talvez o que mais importa. Jeito interiorano não comparável com a pureza do meu irmão Denizar, outro que ontem nos deixou.  Bailado horizontal e vertical das palavras. Espalho ao redor sonhos e as dores da vida. Ipansotera, termo que criei, é o diapasão, tamborilando alegria e tristeza. Sei que nada tenho de universal, a não ser o caráter de humanidade. Não gosto de ficar dizendo o que são meus livros. Ao explicá-los, perde-se a graça. Também não quero ser quem se deixa seduzir pelo que dizem de nós. O epíteto de artista, por exemplo. Sou um ritualista. Não me embalo com a própria voz, nem sinto orgulho de muita coisa, principalmente o acontecido na fase da busca por posições de prestígio. Sou péssimo agente de mim mesmo. Nunca fui virtuoso em nada. Houve poucas coisas que deram certo por elas mesmas, com a contribuição de gente maravilhosa. Acho que no contexto ocorreu algum esforço.   

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