30/03/2014

HERÓI E ÍDOLO



Vou aprendendo a valorizar espaços alternativos em que pessoas diferentes e desconhecidas se encontram. Vivi situação interessante num desses lugares. Era uma barbearia. A comparação entre herói e ídolo me chamou a atenção. Jung, psicólogo analítico, sempre valorizou muito a mitologia. Ela nos ajuda a compreender nossas vidas e nossas ações. Ali os arquétipos. Impressionam, nos influenciam, nos fascinam. Fazem parte da estrutura psíquica herdada. Manifestam-se sempre e por toda parte. Mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem definidos. Ensejam um posicionamento diante da vida. Cada pessoa se enquadraria dentro de um mito.
Trabalhei em hospital psiquiátrico para usuário de drogas. Fazia teatro com os comunitários. Um mito a dramatizar era o da “viagem noturna do herói.” Alguém que teria de enfrentar situações difíceis para renascer como um ser melhor. O herói grego Hércules é exemplo. Passou pela experiência de estada no ventre de um monstro marinho. Assim como na Bíblia, Jonas e a baleia. Hércules vence, ressurgindo ileso, só perdendo sua imensa cabeleira. A imagem do herói se contrapõe à de ídolo, conforme ouvi de Luiz Otavio Fanti, na barbearia do Cláudio, em Atibaia. Meu bisneto de oito anos, sentado na cadeira do barbeiro, ia ser mascote do Santos na semifinal de domingo contra o Penapolense. Luiz lembra o caso de um garotinho que precisou de tratamento médico enquanto vivenciava o papel de mascote do time pelo qual torcia. Luiz insiste que heróis alimentam, enquanto ídolos nos consomem. Observo que a moçada de hoje não encontra modelos, entre os viventes, para se inspirar. Luiz diz que heróis estão na mitologia, não fora dela. São os modelos. Fora desses arquétipos, digo eu, o que temos são ídolos, insossos, pré-fabricados. Assim, concordo com Luiz. Ele vai além. Precisamos cortar, desde cedo, esse culto a ídolos. A idolatria é o que elege vilões, quando não usamos a mente para pensar e escolher por nós mesmos. Idolatria gera ansiedades, angústias e depressão. Por aí até se compreende surtos de violência como compensação.    
Foi assim que uma manhã, como as outras, se tornou especial.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário