Vou
aprendendo a valorizar espaços alternativos em que pessoas diferentes e
desconhecidas se encontram. Vivi situação interessante num desses lugares. Era
uma barbearia. A comparação entre herói e ídolo me chamou a atenção. Jung, psicólogo
analítico, sempre valorizou muito a mitologia. Ela nos ajuda a compreender
nossas vidas e nossas ações. Ali os arquétipos. Impressionam, nos influenciam,
nos fascinam. Fazem parte da estrutura psíquica herdada. Manifestam-se sempre e
por toda parte. Mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem
definidos. Ensejam um posicionamento diante da vida. Cada pessoa se enquadraria
dentro de um mito.
Trabalhei
em hospital psiquiátrico para usuário de drogas. Fazia teatro com os comunitários.
Um mito a dramatizar era o da “viagem noturna do herói.” Alguém que teria de
enfrentar situações difíceis para renascer como um ser melhor. O herói grego Hércules
é exemplo. Passou pela experiência de estada no ventre de um monstro marinho. Assim
como na Bíblia, Jonas e a baleia. Hércules vence, ressurgindo ileso, só
perdendo sua imensa cabeleira. A imagem do herói se contrapõe à de ídolo, conforme
ouvi de Luiz Otavio Fanti, na barbearia do Cláudio, em Atibaia. Meu bisneto de
oito anos, sentado na cadeira do barbeiro, ia ser mascote do Santos na semifinal
de domingo contra o Penapolense. Luiz lembra o caso de um garotinho que precisou
de tratamento médico enquanto vivenciava o papel de mascote do time pelo qual
torcia. Luiz insiste que heróis alimentam, enquanto ídolos nos consomem. Observo
que a moçada de hoje não encontra modelos, entre os viventes, para se inspirar.
Luiz diz que heróis estão na mitologia, não fora dela. São os modelos. Fora desses
arquétipos, digo eu, o que temos são ídolos, insossos, pré-fabricados. Assim,
concordo com Luiz. Ele vai além. Precisamos cortar, desde cedo, esse culto a ídolos.
A idolatria é o que elege vilões, quando não usamos a mente para pensar e escolher
por nós mesmos. Idolatria gera ansiedades, angústias e depressão. Por aí até se
compreende surtos de violência como compensação.
Foi
assim que uma manhã, como as outras, se tornou especial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário