09/03/2012

LIXO EXTRAORDINÁRIO (FILME)


Vale renunciar à atitude utilitarista de planejamentos conscientes, para poder dar lugar a um crescimento interior da nossa personalidade? Cada pessoa tem uma maneira particular de autorrealização. Algo de diferente, sem que a gente deixe de ser o que é. Se o artista respeita isso face ao outro – quem se posta para a cena – preserva-se a individualidade do modelo. O artista, interage. Harmonizar consciente e inconsciente não é fácil. Provável choque, ao se perceber subjetivado, é um apelo. Nova descoberta... Ou a possibilidade de viver de outra maneira. Na dramática, a liberação por certa transcendência, ainda que de caráter burguês, com dinheiro e bens a mais. Burguesia que abranda feridas. Nem importa por quanto dure. Potencial de mudança que se alimenta. Passos mais decisivos se preparam. Viver tolhido nas próprias vontades leva à projeção, pelo frustrado, num objeto ou seja em quem for. O que se deseja e não se encontra, levaria a maior sofrimento. Conselhos pouco ajudam, a não ser um mergulho nas próprias trevas... ou na ficção. A arte possui papel redentor. Se tudo está bem assim, mesmo vivendo no apodrecido e desprezado, pelo menos deve existir um objetivo secreto de melhora, a ensejar sonhos e fantasias. O simbólico inconsciente seria do maior proveito. O filme “Lixo extraordinário”, com Vic Muniz no encontro com catadores do lixão, em que figura e fundo se integram, vincula a imagem realizada a histórias de vida, próprias e de outrem, além da do próprio realizador com os personagens. A obra, enquadrada ou em tamanho maior, fixa ou móvel, acrescenta o inesperado, comovente para atores, realizador e espectadores. Novas ideias, sensações, paradigmas. Despertam para outras perspectivas de vida. E quem mais ganha é a arte/sentimento. Por melhor que nos percebamos, resta um confronto direto com a realidade. Reciclar a própria vida, proposta estética. Discurso, com exemplo, a maior mensagem do filme.

“Lixo extraordinário”, com Vic Muniz, direção de Lucy Walker, co-direção de João Jardim e Karen Harley. Trabalho do artista plástico Vik Muniz no aterro sanitário do Jardim Gramacho (Rio de Janeiro). Dois anos de filmagem, de agosto de 2007 a maio de 2009. Vik fotografa catadores de materiais recicláveis, com o objetivo inicial de retratá-los. Na caixa do DVD: “Revela-se o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano”. “Uma coisa que se transforma em outra.” (Vik Muniz)

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