Sensação estranha a de quem engana sempre. Não dá para esconder do inconsciente nossas verdadeiras intenções. Religião ajuda quando é interioridade. Os maiores equívocos, quando a gente se julga estar com a verdade. Tarefas de menor significância podem nos revelar saudável equilibração. Equilibração, na linguagem piagetiana, é aquele equilíbrio que nunca se conclui... Mas que traduz estabilidade na mobilidade. Erros e ilusões, ardorosamente acalentados, nos exortam a abrir mão deles. Sei que mudar não é fácil. Muitas vezes reagimos com ingratidão e agressividade diante da imprescindível necessidade de transformação pessoal. Um passo positivo é não exigir do outro o que não conseguimos conquistar para nós mesmos. Aprende-se a não desprezar a experiência de quem já tropeçou e caiu, o que também faz parte de nosso repertório. Sem atos falhos e doenças, para que conselheiros e médicos? Nossos sentidos nem sempre funcionam com adequação. Poucos os que ouvem, registrando o que escutaram. Sei que o pior diapasão vem da ânsia de poder. A força de nenhuma posição social ou cargo administrativo deve prevalecer, como se fôssemos homens e mulheres de ferro. Principalmente quando a energia desafia o clamor da própria consciência. Sob o pretexto de sustentar a governabilidade, numa autodefesa, armas físicas ou subjetivas utilizadas, dão mostras do primitivismo humano. Até crenças religiosas fazem isso, num fundamentalismo que explora a fé. Inclusive de forma mercenária, quando se convertem em empresas que objetivam o lucro financeiro. Das religiões partiram guerras e violência, sendo que o dever precípuo delas seria trilhar o entendimento face a pontos de vista divergentes. Cair, em consequência da imperfeição do outro, é algo triste. Daí a ressalva: Toda a tentativa em ludibriar a própria consciência é inútil. Aquela coisa da estabilidade conseguida na mobilidade, nada se consegue de valioso para a inteligência e o espírito, sem caminhar. Guimarães Rosa disse que “a liberdade está na movimentação”. Meu movimento estoca novas possibilidades. Um estilo implosivo de realizações pode produzir efeito de busca alcançada. A vida é curta. Vale no eterno presente. Ações pelo pensamento e por mãos e pernas, no começo continuado dos processos. Se criativos, a alma se enriquece. Não esperar compensações materiais, nem a retribuição moral alheia, ou o incenso humano. Há quem se ilude perigosamente a respeito de seus próprios méritos. Uma boa é identificar em si mesmo o que faz tropeçar.
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