14/01/2011

A AURA

Jonas conversa com Erdan Bets, desenhista publicitário e quadrinista:
- Nos seus desenhos você trabalha com alta resolução. Tudo muito bem definido. Mesmo inventando, você representa.
Erdan – Senão deixo de ser compreendido e aceito.
Jonas – No meu caso, fujo da representação figurativa. Pelo menos deformo.
Erdan – No meu, não me aceitaria de outra forma.
Jonas – Bonito isso. Temos algo em comum... Viver só não basta.
Erdan – Todo artista não seria um neurótico?
Jonas – Busco criatividade mesmo na destruição. Renuncio à forma objetiva por algo maior? Claro que a gente, ainda que rebelde, faz concessões. É como se o artista vivesse num “anti” mundo. Eu me esforço por certo despojamento do que injetaram em nós, desde que nascemos. Minha arte, no início, era essencialmente reprodutiva. Se neurose é fugir do senso comum, o artista é um neurótico. Acho que é fácil traçar analogia entre o verdadeiro artista e um estado psíquico “esquizofrênico”.
Erdan – No mundo, seríamos os mais saudáveis?
Jonas – Sei que o comum é a estereotipia, a repetição de atitudes e comportamentos... Isso não é doentio?
Erdan – Daí prevalece a monotonia. A vida perdendo o interesse.

A conversa entre Jonas e Erdan decorre de uma questão: É que vivemos na época em que a obra de arte vai perdendo a aura pela reprodutibilidade técnica, segundo Walter Benjamin. (Hoje, isso é discutido.) A cópia de uma pintura, pela operação de plotagem (quando a foto que se pôs no computador é transferida para outro suporte)... O que estava em tela é passado para outra tela. Perde-se, nesse processo, a aura da obra original? Gravuras têm reprodução numerada. Pinturas, não. A não ser que o artista deseje fazê-lo. Qualquer reprodução, em artes plásticas, a princípio, teria um valor inferior ao da obra original. Jonas vive uma situação afetiva digna de nota. Pinturas originais foram vendidas ou não lhe pertencem mais por razões diversas (perdas, doações). Há inclusive o caso de uma obra ser fotografada, e, tempos depois, surgir outra por cima da anterior. Tantos artistas fizeram isso. Mais tarde, a partir da foto que registrou o estado anterior da pintura, pode ocorrer novo interesse em ver o primeiro trabalho reproduzido e, novamente, como obra acabada, talvez pendurada, com destaque. Plotagem aceita sem restrições (quando em alta resolução), ou repintada se não se aprovar a baixa resolução. Trata-se de processo criativo que não se interrompe. Fase atual na vida artística do homem Jonas. Eis o que motivou o diálogo com o responsável pela arte-final no computador, Erdan Bets. Sagrada ignorância, o que parece, caso Jonas despreze a oportunidade tecnológica desse “possuir à distãncia”... Pela foto reproduzida voltar a ter presente a melhor imagem de uma obra póstuma. Ainda que ela sofra alterações de traços, manchas e texturas. Viva a tecnologia! O valor monetário do trabalho fica para a neurose capitalista dos marchands. Quanto à neurose ou esquizofrenia do artista... Sem arte, aí é que o mundo sai perdendo! Quantas auras para a mesma obra do artista!

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