04/12/2010

FALAR EM DEUS

Ao falar em Deus há os que creem e os que não creem. Ao falar em religião, as seitas disputam entre si a posse de Deus. Ao usar o termo religiosidade, o que implica em rituais, temos o que se pode entender como uma função natural, espécie de instinto. Está presente não só em igrejas e centros, onde fiéis se reúnem, mas também nos megaeventos culturais e nos coletivos sociais de confraternização, como um sentimento religioso. No culto ao automóvel, é só observar os salões, e no dedicado aos grandes ídolos: raça, sexo, estado, partido, dinheiro, máquina. Saramago, no romance Caim, usa minúscula para os nomes próprios e fala no “senhor”, ao referir-se ao criador. Comunista confesso, e ateu, Saramago está impregnado de sentimento numinoso. Ele não crê é no Deus que se propaga, ser antropomórfico que dá e tira, pune e premia. Jung fala no arquétipo da imagem de Deus, presente no homem, sem jamais afirmar nem negar a existência de Deus como ser em si mesmo. O Cristo, mesmo com sua superioridade espiritual e grandesa heróica, já não descarta a metade escura da totalidade humana. Teve suas fraquezas. Saramago não o diviniza, apresentando-o como homem. Jung disse, dois dias antes de completar 80 anos: “Não necessito crer em Deus: eu sei”. Aconteceu numa entrevista à BBC de Londres, causando grande celeuma. Mais tarde ele esclarece que se confronta com um “fator desconhecido em si, ao qual chamo Deus”. “Desde que experimento minha colisão com um poder superior dentro de meu próprio sistema psíquico, eu tenho conhecimento de Deus.” Quando eu, particularmente, peço forças e inspiração, refiro-me ao poder superior inconsciente que está em mim e, ao mesmo tempo, nos assiste de fora.
É como se aquecesse o motor para a partida. No imponderável da vida somos força de atração para o bem e para o mal. Ambos, como luz e sombra, fazem parte da totalidade de tudo o que existe, vai acontecer ou já aconteceu. “Invocado ou não invocado Deus estará presente”... Esta frase, gravada em pedra, encima a porta da casa de Jung em Küsnacht. São palavras do oráculo de Delfos, em resposta aos lacedemônios, quando pretendiam guerrear com os atenienses.

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