06/10/2010

NÃO BASTA SE COÇAR

NÃO BASTA SE COÇAR

Revejo um tipo de crítica que venho fazendo aos livros de autoajuda. Em geral são obras de solução, messiânicas, doutrinárias sob roupagem ecumênica, embora muitas se declarem não sectaristas. Dão receitas, espécie de bula superficial de dosagens químicas. Apontam deficiências que todos nós conhecemos, preconizando saídas para dores da mente e da alma. Talvez valessem a pena em estágios mais avançados de conscientização sobre males que nos afetam. Raciocínio de causa e efeito, insistência em porquês, sem maior elucidação sobre o que condiciona atitudes e comportamentos, desde que nascemos. Lidam com certezas, embora muitas vezes descartem o caráter doutrinário. Parece que entendem mais de doenças da alma do que de saúde da alma. Para mim vejo com maior clareza e distinção que não são um mal, mas espécie de fuga para o misticismo. Verdades impolutas é o que pregam. Ajudam como bálsamo, pensam feridas.

Tenho criticado a medicina cujo modelo é o cartesiano. Daí se dizer também que médicos entendem de doença, não de saúde. A compulsão em receitar medicamentos, desde a primeira consulta, sem conhecer a história do paciente soa como prurido cujo remédio é só se coçar. Eis uma forma de aumentar a doença. Esse modelo metodológico vale, inclusive, para os gurus, profetas, terapeutas alternativos, médicos do corpo e da alma.

Sem a compreensão de que somos uma totalidade, com funções integradas que, se cultivadas separadamente irão gerar desequilíbrio, qualquer remédio para o corpo ou para a alma é paliativo. Pensamento, sentimento, sensação e intuição correspondem à integridade corpomente. Qualquer exagero na prática de um desses aspectos gera doença. Desde um resfriado a algo crônico e mesmo fatal. O interesse em estudar cada função, relacionando-a aos tipos psicológicos que as armazena pode ser caminho para se completar mil léguas. Eis um processo muito mais saudável do que se apegar a formulinhas, sejam místicas sejam utilitárias. Ao falar em tipos psicológicos, longe de pensar em tipos puros. E cada um é mescla de todos. “Mais sim e mais não” – chave para se encarar tudo na vida. Nada de neutralidade ou meio termo. O utilitarismo se volta para uma realidade que se pensa compreender em todas as suas nuances (aqui já o prevalecimento da função “pensamento”). Imagine você afinando um cavaco na forma em que uma corda se destaca das outras, sem levar em conta o fator harmonia. Vai doer, né?

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