07/07/2010

AQUÉM OU ALÉM

Tenho me interessado mais pela leitura de intelectuais e pensadores pessimistas, assim considerados ou que se autodenominam dessa forma, do que pelos doutrinadores anunciantes de paraísos e sucesso. Os pessimistas chegam a ser mais substanciosos, recusando termos como energia, ideal, psique, Deus, espírito. Poderia pôr essas palavras entre aspas. Há os que também não veem a ciência como religião nem ficam glorificando a razão. Uma palavra que pode assustar... fenomenologia. Os que a professam, mesmo sem mencioná-la, estariam voltados para “as próprias coisas”, não para a representação delas. Entre os pessimistas, são os que preferem as ferramentas substantivo e verbo. Não abusam dos adjetivos, embora qualifiquem o que expressam, pelo sentido. Ao recusarem os termos citados, segundo eles, espécie de refúgio dos calhordas, é de se supor que não creem no que pode ir além da vida atual dos fatos. Alguns são até cientificistas, epíteto este de certa untuosidade. Depois do meu preâmbulo, meio chutado, um recado nada parecido com os da autoajuda.

Os de índole um tanto niilista, que desconfiam de qualquer idealização, como que condenam a que não nos sintamos motivados por escolhas afetivas e intelectuais. Minha dúvida é se os pessimistas experimentam alguma forma de alegria. Penso numa alegria autêntica pela pessoa que realmente são. Há uma singularidade que nos diferencia dos outros indivíduos. Temos tarefas a cumprir de acordo com aptidões especiais ou talentos. Aptidões ou talentos são inimitáveis.

As “temíveis palavras”, se não substituídas por outras capazes de ir além da “filosofia pé no chão” dos positivistas, deveriam infundir maior respeito, desde que não virem passaporte para algum tipo de salvação. Teriam mais a ver com o desenvolvimento da pessoa motivada a viver, com alguma idealização capaz de juntar os pedaços da consciência dissociada de nossos tempos. Que os sistemas educativos e políticos não sejam tão rígidos e as filosofias menos sistemáticas.

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