03/11/2013



BIOGRAFANDO-SE

Quando digo ou dou a entender que escritores me ajudam, eu, um leitor-autor, penso em ideias, palavras, às vezes frases inteiras. Colo ou faço as coisas de forma não tão voluntária. Deve ser algo do ofício de lidar com palavras, fazendo literatura. Sei que ideias novas não existem, mas é gostoso quando, mesmo reproduzindo, se experimenta a sensação de estar realizando algo novo. Certo consolo e menor dor de consciência ocorrem quando a impressão é a de que o feito partiu inteiramente de nós. Buscar sempre isso vale o risco. A maior felicidade está no momento da criação, como teria dito Maquiavel.

Meu processo é implosivo. Caminho por circularidades. Não é linear, com começo, meio e fim. Começo e meio, o traço que pode ou não se fechar. Não gosto de alimentar expectativas, nem ser objeto de quem espera respostas. Concluir tarefas não é o meu forte (ou fraqueza). Terminaria tudo sem terminar, com um etcétera. Nem tudo, né?

Não existe uma “teoria final”, o que é buscado pelos cientistas para explicar o mundo, a natureza e a vida. A natureza é imperfeita (Marcelo Gleiser).

Agora, a convivência com quem espera que eu não deixe as coisas pela metade é cheia de atritos. Sei que sem faíscas meu motor não funciona... Mesmo quando tomo a iniciativa e resolvo problemas, isso passa quase despercebido. Talvez aconteça por que pertenço a “outra praia”. Demonstram não crer.

O dentro e o fora, o antes e o depois, fazem pouca diferença. Prestar atenção, ou certo autismo constituem ferramentas de um velho adolescente. A simetria se ausenta do meu foco. Pouco me preocupo com padrões estabelecidos pelo sistema social e cultural. Mas ética e moral, eu as encaro como obsessivas práticas cotidianas. Não gosto de falar sob o “dever ser”, prescrever verdades ou doutrinar. Cada um é cada sentença... porém em termos. Nossas ideias não são tão claras e distintas como acreditamos. Até falamos mal de Descartes. Melhor: “eu sinto, logo existo”. Embora minha poética seja a do erro, chego a me comportar de maneira bem conservadora... Ou não teria sobrevivido com os que me pagam. Gravito num equilíbrio inconcluso. Meu mantra: “A estabilidade está na mobilidade”.

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