BIOGRAFANDO-SE
Quando digo ou dou a entender que
escritores me ajudam, eu, um leitor-autor, penso em ideias, palavras, às vezes
frases inteiras. Colo ou faço as coisas de forma não tão voluntária. Deve ser
algo do ofício de lidar com palavras, fazendo literatura. Sei que ideias novas
não existem, mas é gostoso quando, mesmo reproduzindo, se experimenta a
sensação de estar realizando algo novo. Certo consolo e menor dor de
consciência ocorrem quando a impressão é a de que o feito partiu inteiramente de
nós. Buscar sempre isso vale o risco. A maior felicidade está no momento da
criação, como teria dito Maquiavel.
Meu processo é implosivo. Caminho por
circularidades. Não é linear, com começo, meio e fim. Começo e meio, o traço
que pode ou não se fechar. Não gosto de alimentar expectativas, nem ser objeto
de quem espera respostas. Concluir tarefas não é o meu forte (ou fraqueza). Terminaria
tudo sem terminar, com um etcétera. Nem tudo, né?
Não existe uma “teoria final”, o que é
buscado pelos cientistas para explicar o mundo, a natureza e a vida. A natureza
é imperfeita (Marcelo Gleiser).
Agora, a convivência com quem espera que
eu não deixe as coisas pela metade é cheia de atritos. Sei que sem faíscas meu
motor não funciona... Mesmo quando tomo a iniciativa e resolvo problemas, isso
passa quase despercebido. Talvez aconteça por que pertenço a “outra praia”.
Demonstram não crer.
O dentro e o fora, o antes e o depois,
fazem pouca diferença. Prestar atenção, ou certo autismo constituem ferramentas
de um velho adolescente. A simetria se ausenta do meu foco. Pouco me preocupo
com padrões estabelecidos pelo sistema social e cultural. Mas ética e moral, eu
as encaro como obsessivas práticas cotidianas. Não gosto de falar sob o “dever
ser”, prescrever verdades ou doutrinar. Cada um é cada sentença... porém em
termos. Nossas ideias não são tão claras e distintas como acreditamos. Até
falamos mal de Descartes. Melhor: “eu sinto, logo existo”. Embora minha poética
seja a do erro, chego a me comportar de maneira bem conservadora... Ou não
teria sobrevivido com os que me pagam. Gravito num equilíbrio inconcluso. Meu mantra:
“A estabilidade está na mobilidade”.
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